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Soja: Alta nos preços do grão ajusta margens de esmagamento no Brasil

A valorização da soja em grão vem ajustando as margens de esmagamento nas indústrias processadoras do Brasil nas últimas semanas. Nas mais importantes praças produtoras, as margens brutas médias acumuladas até os primeiros meses deste ano recuaram ante a mesma época de 2014, já que a alta da matéria-prima foi estimulada pelo dólar e o farelo e óleo não acompanharam esse movimento. Apesar disso, seguem positivas.

No período de 22 de junho a 22 de julho de 2015, houve alta de 4,72% para os preços da soja no vencimento agosto/15 praticado na Bolsa de Chicago, passando de US$ 9,74 para US$ 10,20 por bushel. O dólar também acompanhou e subiu 3,91% no mesmo intervalo.

Ainda assim, os preços do farelo, no último mês, também registraram alguma valorização tanto no Brasil quanto em seus futuros negociados em Chicago. Na CBOT, foi registrado um ganho de 9,52% no contrato agosto/15. Já no Brasil, os preços médios subiram 5,62% no Mato Grosso, 1,53% no estado do Paraná e 9,62% no Rio Grande do Sul.

Segundo cálculos feitos pela consultoria FCStone a pedido do Valor Econômico, em Rondonópolis (MT), por exemplo, a margem bruta média ficou em R$ 117,53 por tonelada de soja processada desde janeiro até julho, 18% abaixo em relação ao mesmo período de 2014. Essa conta considera os preços de compra do grão e de venda de farelo em 78% e o óleo em 18% de rendimento, excluindo os custos operacionais.

Já em Uberlândia (MG), o recuo da margem foi ainda maior, próximo de 19%, para R$ 127,70 por tonelada. Contrariamente, em Passo Fundo (RS) houve alta de 19,5%, diante do fortalecimento do farelo por conta da demanda para a produção de ração na região.

O que tem trazido essa alta nos preços da soja no mercado brasileiro, além dos ganhos registrados na Bolsa de Chicago, é a pouca disponibilidade de produto da safra 2014/15. O pouco restante – já que mais de 90% da oferta dessa temporada já foi comercializada – tem sido ainda disputada com o mercado externo, situação que é refletida nas exportações recordes de soja em grão do Brasil nos últimos meses.

O Brasil já exportou nos primeiros 13 dias úteis de julho 5.212,13 milhões de toneladas de soja em grão e, nos meses de maio e junho bateu recorde nas vendas externas que passaram de 9 milhões de toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). E o quadro persiste, apesar de a tendência do programa de exportações ser de perder um pouco de ritmo nos meses seguintes, refletido em prêmios bastante elevados nos portos brasileiros.

Estimativas positivas para produção de derivados

Apesar desse recente aperto nas margens, as estimativas da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) são positivas. Segundo dados da instituição, houve uma alta de 9% no esmagamento de soja nos primeiros cinco meses de 2015, com cerca de 16,37 milhões de toneladas da oleaginosa sendo processadas. A projeção da Abiove para o esmagamento de soja em todo este ano no país é de 39,1 milhões de toneladas, contra 37,62 milhões em 2014.

A associação projeta ainda um aumento na produção de farelo, a qual deve subir de 28,75 milhões de toneladas em 2014 para 29,8 milhões em 2015. Da mesma forma, o consumo doméstico do farelo de soja vai para 15,1 milhões de toneladas, contra 14,7 milhões do ano passado. As exportações também podem crescer, passando de 13,8 milhões de toneladas, para 14,7 milhões em um ano.

Já a produção de óleo sobe de 7,44 milhões para 7,55 milhões de toneladas de 2014, ainda de acordo com uma estimativa da Abiove. O consumo interno acompanha e registra alta para 6,5 milhões de toneladas, contra 6,109 milhões do ano anterior. As exportações sobem também e a estimativa para 2015 é de 1,295 milhão de toneladas, contra 1,050 milhão do ano passado.

Um dos motivos para manter as estimativas da Abiove positivas é, segundo analistas, a demanda por proteína animal, que segue aquecida tanto internamente quanto para exportações. A necessidade de ração animal vem aumentando na medida em que cresce a produção e o consumo de carnes de suínos, frangos e bovinos. Segundo informou o Valor Econômico, "o mercado de carnes está aquecido, demandando mais farelo devido ao período de confinamento dos animais”.

O analista de mercado José Baratella, da corretora Okamoto, de Goiânia (GO), concorda que o cenário para o farelo é melhor. "Estamos em período de seca, o que reforça a demanda dos confinamentos". Para ele, os preços do farelo poderão subir este ano também se a demanda externa se mantiver aquecida.

Porém, analistas não descartam a possibilidade de uma desaceleração, mesmo que pontual, do esmagamento de soja no Brasil. Afinal, apesar das boas perspectivas para o farelo e da indústria de biodiesel – que irá necessitar de mais óleo de soja – os preços do derivado recuam e poderiam pressionar mais as margens. Ainda de acordo com o Valor, o mercado de óleo terá que se ajustar nos próximos 30 a 45 dias, antes que coloque as margens de processamento em risco.

Fonte: Notícias Agrícolas