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Sem acordo com governo, líderes caminhoneiros anunciam greve. No Sul, estradas já estão sendo bloqueadas

Na Folha de S. Paulo:

Pneus foram incendiados no acostamento da rodovia BR-285, próximo ao km 485, em Ijuí (RS), por volta das 21h30 de quarta-feira (22). Nenhum suspeito foi preso.

Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), o fogo se concentrou no acostamento e não houve interrupção do trânsito no trecho. Os bombeiros foram ao local e apagaram rapidamente o fogo.

A PRF suspeita que os pneus tenham sido incendiados por caminhoneiros que prometeram retomar os protestos a partir da 0h desta quinta-feira (23). Nos últimos protestos da categoria, realizados em fevereiro, eles promoveram vários atos com queima de pneus.

Por volta da 0h, caminhoneiros bloquearam os dois sentidos da BR-286, no km 246, próximo ao trevo de entrada da cidade de Soledade (RS). Os manifestantes não permitem a passagem de caminhões com carga pelo local, de acordo com a PRF.

Na Reuters: Caminhoneiros anunciam novos protestos a partir de quinta-feira

O governo federal e caminhoneiros não chegaram a um acordo nesta quarta-feira sobre o pedido da categoria para tabelamento do preço do frete, e representantes dos motoristas anunciaram uma nova paralisação a partir de zero hora de quinta-feira.

"O Brasil vai parar", gritaram em coro os caminhoneiros, após reunião na sede da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Protestos de caminhoneiros em fevereiro e início de março paralisaram dezenas de rodovias, afetando exportações brasileiras e a movimentação de cargas no país, com reflexos negativos para a economia.

Uma greve no momento poderia ser ainda mais danosa ao país, uma vez que o Brasil está apenas no início dos embarques de uma safra recorde de soja, o principal produto brasileiro de exportação em março.

"Os representantes do governo disseram que há empecilhos jurídicos para uma tabela impositiva (de frete), e a categoria não quer uma tabela apenas referencial", disse o representante dos caminhoneiros autônomos do Centro-Oeste, Gilson Baitaca.

Os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e o dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, participaram da reunião representando o governo.

As indústrias que contratam frete, especialmente aquelas que trabalham com produtos agrícolas, são contrárias a um tabelamento e sugeriram a criação de uma bolsa de fretes para dar transparência ao setor.

As empresas que precisam transportar cargas defendem que o tabelamento de fretes, além de ser inconstitucional, contraria a livre concorrência e a livre iniciativa, e poderia elevar a inflação.

Os protestos anteriores geraram prejuízo de cerca de 700 milhões de reais para a indústria de carnes de aves e suínos, com os bloqueios de rodovias paralisando abates e afetando o transporte de insumos e produtos.

Os caminhoneiros suspenderam as manifestações no início de março após o governo anunciar uma série de medidas, como a aprovação sem vetos da Lei do Caminhoneiro, que reduziu custos em rodovias com pedágios, por exemplo.

Além disso, o governo efetuou pesadas multas contra os caminhoneiros, levando muitos a desmobilizarem os protestos.

Representantes dos agricultores de Mato Grosso, uma das regiões mais afetadas pelos protestos, acreditam que a nova greve não será tão intensa como foi a anterior.

"Não acredito que eles consigam, ao menos de imediato, paralisar novamente na intensidade que estavam. A comunicação entre eles está muito divergente para paralisarem novamente" Antônio Galvan, presidente do Sindicato Rural de Sinop, no norte de Mato Grosso.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência não respondeu diretamente se acha que a greve será menos intensa do que a de fevereiro, mas disse estar seguro de que "a ampla maioria da categoria vai apoiar as propostas apresentadas pelo governo".

Rossetto lembrou que o governo sancionou a Lei dos Caminhoneiros que prevê a isenção da cobrança de pedágios por eixo suspenso e disse que a tabela referencial proposta pelo governo é um "forte instrumento" para a negociação dos preços de fretes.

Ele reiterou que a tabela impositiva, demandada pelos caminhoneiros, não tem amparo legal e teria dificuldades para implementação.

"Entre dezenas de conquistas, há um único ponto em que não houve concordância", disse.

Na Folha: Sem acordo com governo, líderes caminhoneiros anunciam greve

Líderes de caminhoneiros anunciaram nesta quarta-feira (22) que vão começar uma nova greve a partir da meia-noite.

O anúncio foi feito após uma reunião entre representantes da categoria e integrantes do governo para decidir se haveria uma tabela de frete mínimo, pedido feito pelos caminhoneiros na greve realizada no mês de março.

Após quase dois meses de negociações, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, anunciou que o governo não faria uma tabela de frete mínimo, criando apenas uma tabela referencial. Grandes empresas eram contra a tabela mínima.

Após o anúncio, cerca de 50 representantes da categoria saíram do auditório da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) aos gritos de "O Brasil Vai Parar". Vários deles já se articulavam com outros líderes por mensagens de textos e redes sociais para iniciar a mobilização da categoria.

Rossetto tentou explicar aos caminhoneiros que o governo considerava que a tabela de frete mínimo, que criaria um valor mínimo para o pagamento do transporte de carga, seria inconstitucional e também não funcionaria.

Para tentar convencer os caminhoneiros a não anunciar o movimento, Rossetto apresentou reivindicações dos caminhoneiros que foram atendidas desde a greve, como a postergação do pagamento de dívidas, ofereceu a tabela referencial e uma "mesa permanente de negociação com os empresários" para melhorar o preço do frete.

Vários caminhoneiros rasgaram a proposta na frente do ministro e deixaram o encontro ao gritos que estavam sendo "pedalados" pelo governo.

"Desde o começo eles estavam avisado que a principal reivindicação é a tabela mínima de frete. Esperávamos mais coerência deles sobre essa impossibilidade. É sempre em benefício de políticos e grandes grupos. A [tabela] referencial não aceitamos de jeito nenhum", disse Diego Mendes, que é caminhoneiro autônomo na região do Nordeste.

Segundo Mendes, havia até o dia anterior à reunião uma tendência do governo de fazer a tabela mínima por um período e que, se fosse o caso, as empresas entrariam na Justiça para derrubar a medida.

Ao fim da reunião, Rossetto convocou uma entrevista coletiva para tentar explicar a posição do governo. Ele afirmou que o governo estudou muito o assunto e considerou que além de inconstitucional, uma tabela mínima seria impraticável.

"Há uma enorme diferenciação na atividade que torna impraticável uma tabela impositiva", disse Rossetto.

Segundo ele, o governo está seguro que a tabela referencial cria uma base para melhor distribuir a renda na atividade. Para ele, a maioria dos caminhoneiros reconhece as conquistas alcançadas após a greve e só houve desacordo sobre esse ponto. Perguntado sobre o que seria feito se houvesse greve, o ministro afirmou:

"Acreditamos que as medidas estão sendo compreendidas pelos caminhoneiros. Achamos que haverá um grande, amplo apoio da categoria [ao que o governo fez]. Estamos seguros da aceitação por parte da categoria. Vamos aguardar", disse Rossetto.

Fonte: Reuters / Folha de S.Paulo