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Rentabilidade das propriedades de grãos recua pelo terceiro ano seguido

A rentabilidade em fazendas típicas de grãos e cereais, na média mundial (considerando-se os 45 países membros), caiu pelo terceiro ano consecutivo em 2014. Os dados que compõem esse cálculo foram apresentados na Conferência Anual do Agri benchmark Cash Crop, realizada pela primeira vez no Brasil. Especialistas internacionais do setor se reuniram em Goiânia (GO) para discutir os custos e receitas nas fazendas típicas ao redor do mundo. As informações brasileiras foram fornecidas pelas pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, representante do País no Agri benchmark, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Segundo o pesquisador do Cepea Mauro Osaki, os preços das commodities vêm caindo desde 2012, o que comprometeu a rentabilidade das culturas avaliadas – soja, milho e trigo. “Mesmo com os custos de produção não apresentando altas significativas em dólar, o retorno dos produtores de grãos e cereais segue pressionado pela desvalorização dos principais produtos agrícolas”, explica.

Os dados apresentados na conferência comparam o valor de retorno da terra em diferentes países para avaliar o desempenho das culturas ao redor do mundo. Em 2014, o retorno da terra médio era de US$ 410/ha nos Estados Unidos e de US$ 300 no Brasil. Já em países do Leste Europeu, como Ucrânia, o hectare valia mais, cerca de US$ 600, enquanto na Austrália ficava em torno de US$ 80. “Esses dados indicam, por exemplo, que nos EUA as culturas são mais rentáveis que no Brasil. A crescente produtividade dos grãos ainda garante uma boa rentabilidade aos brasileiros, mas, para nos equiparamos aos norte-americanos, precisamos resolver os gargalos logísticos”, esclarece Osaki.

Vale ressaltar que, em 2012, os preços das commodities estavam em patamar elevado. “Na comparação mundial, o Brasil é o país com menor retorno e com o preço de sementes mais caro por tonelada produzida. Assim, mesmo que a rentabilidade obtida com a soja seja positiva no Brasil, ao ser somada com a do milho, não é possível cobrir os custos totais”, destacou Osaki. Além disso, custos com transporte e mão de obra ainda pesam muito na receita dos produtores de grãos brasileiro.

Os resultados também foram influenciados pela variação cambial no período. “O impacto do menor preço das commodities no Brasil, União Europeia, Austrália, Rússia e Ucrânia foi atenuado pela desvalorização de suas respectivas moedas em relação ao dólar”, disse o coordenador do Agri benchmark, Yelto Zimmer, do Instituto Thünen, na Alemanha.

Ainda segundo os dados apresentados pelo Cepea, a produtividade do milho segunda safra no Brasil é considerada satisfatória - em 2014 foi de 6 t/ha em média. Porém, na comparação com Argentina, Estados Unidos e Ucrânia, principais produtores de milho, o Brasil é o único a ter retorno negativo com o cereal. Já nos Estados Unidos, a receita bruta obtida com a produção de milho ficou muito próxima dos custos de produção, especialmente no centro-oeste daquele país.

TRIGO – Estudos de caso do Brasil, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos revelaram que a resistência de ervas daninhas a herbicidas já tem causado impacto econômico nas lavouras de trigo. “Os dados mostram aumento no custo de produção em torno de US$ 40 por hectare na Austrália, ou o equivalente a US$ 20/t de trigo e de mais US$ 150/ha (US$ 30/t de trigo) no Reino Unido. Esses aumentos foram causados pela necessidade de um maior número de aplicações de herbicidas, por mudanças nas rotações de culturas e também por sistemas de cultivo intensivos”, ressaltou o coordenador do estudo, Thomas de Witte, do Instituto Thünen.

Fonte: Cepea