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Redução de impostos na Argentina prejudica mercado de soja no Brasil

Terceiro maior esmagador de soja do mundo, a Argentina busca mais espaço no mercado internacional com reduções nos impostos de exportação do grão e seus derivados. A nova política favorece a indústria vizinha e prejudica a brasileira. No Brasil, o setor teme a dimensão, ainda incerta, do impacto ao mercado.

O presidente eleito na Argentina, Maurício Macri, toma posse na quinta-feira (10) e já prometeu baixar em cinco pontos percentuais por ano o imposto de 35% das exportações de soja em grãos. Na última semana, o presidente da Câmara Agroexportadora da Argentina (Ciara-CEC), Alberto Rodríguez, disse à agência de notícias Reuters que o mesmo vai acontecer com os tributos para os embarques dos derivados, farelo e óleo.

"Uma redução nos impostos vai permitir que exportem mais, com isso, oagricultor vai receber mais dólares pelo mesmo volume de produto. Isso também vai estimulá-lo a produzir mais", explica o gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan Amaral.

Atualmente, os embarques de farelo e óleo de soja argentinos estão sujeitos a um tributo de 32%, por decisão tomada pelo grupo político que comanda o país há 12 anos, os Kirchner.

No entanto, durante o período de 2014/ 2015, foi colhida uma safra recorde de 60,8 milhões de toneladas, de acordo com o Departamento deAgricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Com esse avanço produtivo, o executivo da Ciara-CEC destaca que a indústria esmagadora trabalha com uma capacidade ociosa em torno de 30%. Mesmo assim, os argentinos ainda figuram na terceira posição do ranking de processamento, com a média de 40 milhões de toneladas, atrás apenas da China e Estados Unidos, respectivamente. O Brasil ocupa o quarto lugar entre os esmagadores da cadeia.

Especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) informam, por meio de nota, que há uma maior demanda internacional por óleo de soja atrelada às expectativas de aumento na produção de biodiesel. "Há especulações de que os Estados Unidos já elevaram, também, o processamento do grão devido à firme procura por óleo de soja", enfatizam.

Dias antes do anúncio vindo dos vizinhos, a Abiove estimou para 2016 embarques de soja em grão de 53,8 milhões de toneladas, aumento de 1,5% na comparação com o resultado em 2015. Quanto ao farelo, a expectativa é que as vendas externas sejam semelhantes às deste ano, de 15,2 milhões de toneladas. As exportações de óleo deverão ficar em 1,47 milhão de toneladas, crescimento de 5%. "Essa medida não vai surtir todos os efeitos imediatamente, mas fica o sinal amarelo para o Brasil", comenta Amaral.

Apoiado em um discurso semelhante, o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Nery Ribas, diz que há uma preocupação, devido a um impacto direto na cadeia brasileira, "porém, é uma política que não tem condições de ser implantada de imediato", completa. Desta forma, cabe ao agricultor do Brasil acompanhar o mercado e, segundo o executivo, melhorar em competitividade. "É um dever de casa que nós temos que fazer".

Vale lembrar que esta melhoria esbarra na falta de confiança deixada pelo andamento da política econômica no País. "Estamos cada vez mais apreensivos com o que acontece dentro do País e temos que conviver com o mercado mundial", afirma Ribas.

No campo

"O tempo quente e seco voltou a acender a luz amarela no Matopiba, região que concentra os trabalhos e também o atraso nesta reta final do plantio da safra 2015/2016. Até a última sexta-feira (4), 88% da área estimada para asoja no Brasil estava semeada. Apesar do avanço semanal de sete pontos, ainda há atraso em relação aos 94% da média de cinco anos", avalia a analista de mercado da AgRural, Daniele Siqueira, em relatório.

Fonte: DCI