Plantio da safrinha de milho avança nos maiores Estados produtores
Apesar das intempéries que chacoalham a reta final da colheita de soja nesta safra 2013/14 no Brasil, o plantio da segunda safra de milho (também chamada de safrinha), realizado na sequência da retirada da oleaginosa de campo, caminha dentro da normalidade. O excesso de chuvas e a seca até atrasaram a semeadura em parte das regiões produtoras, mas o clima vem se regularizando, o que alivia a preocupação.
A Conab já transformou o maior otimismo em números. Ontem, elevou em 2,2%, para 43,76 milhões de toneladas, a expectativa para a produção da safrinha, embora o volume ainda seja 6,7% menor que o de 2012/13. Mesmo assim, a safrinha voltará a representar mais da metade da colheita total de milho no país na temporada - e até ampliará sua participação, tendo em vista a queda expressiva da safra de verão. Segundo a Conab, 58,2% do cereal produzido em 2013/14 virá da segunda safra, ante 57,6% no ciclo anterior.
As novas estimativas da Conab para área e produtividade também foram ajustadas para cima em relação a fevereiro - 1,64% e 0,51%, respectivamente, para 8,69 milhões de hectares e 5,03 toneladas por hectare -, ainda que também continuem abaixo dos resultados de 2012/13.
Em Mato Grosso, maior produtor de safrinha do país, o plantio já foi finalizado em 91,6% da área. "A expectativa é concluir os trabalhos ainda esta semana", disse Daniel Latorraca, gestor do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Embora o ritmo do plantio mato-grossense esteja semelhante ao dos últimos anos, as precipitações de fevereiro "empurraram" 25% da área para ser semeada em março, fora da janela considerada ideal. O atraso pode afetar a produtividade da safrinha, que deverá ficar mais suscetível à falta de umidade que costuma marcar abril. "Mesmo assim, esperamos uma média de 88 sacas [5,28 toneladas] por hectare. Se o clima contribuir, o rendimento pode até ser mais elevado", previu Latorraca.
Mas a produtividade esperada em Mato Grosso está longe das 102 sacas [6,12 toneladas] por hectare de 2013. O motivo principal é a redução dos investimentos em tecnologia nas lavouras. A desvalorização do grão no segundo semestre de 2013 desestimulou aportes e muitos agricultores optaram por sementes mais baratas e menos fertilizantes.
Outro fator de desânimo foi o custo. Nas contas do Imea, foram gastos R$ 1,03 mil, em média, para implantar um hectare, 14% acima de 2013. As sementes foram o item de maior peso: subiram 32%, para R$ 324,21 por hectare. A equação da safrinha mato-grossense é completada por uma redução de 12,4% na área, para 3,24 milhões de hectares. Com isso, a produção deverá cair 24,4%, para 17 milhões de toneladas, segundo o Imea - a Conab prevê 16,56 milhões para o Estado.
Em Mato Grosso do Sul, embora haja a crença de que a área ficará em 1,5 milhão de hectares, mesmo patamar de 2012/13, a queda de investimentos também afetará a produção. A Aprosoja/MS, que representa produtores de soja e milho do Estado, projeta uma colheita 10% inferior, de 6,75 milhões de toneladas, enquanto a Conab estima 7,1 milhões.
Conforme Maurício Saito, presidente da Aprosoja/MS, houve alta de 1% no custo de produção no Estado, para R$ 1,6 mil, em média. "O produtor não se dispôs a pagar pelos pacotes com maior tecnologia". A semeadura terminou em 78% da área, ante os 89% do mesmo período de 2013, mas está no "padrão histórico".
Já no Paraná, não há atraso no plantio, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Estado. Houve um problema inicial com a seca em fevereiro, mas voltou a chover e a situação das lavouras melhorou. Estima-se que 86% da área já foi semeada, e tanto Deral quanto Conab preveem colheita de 10 milhões de toneladas, pouco inferior ao volume de 2012/13 (10,48 milhões).
A recuperação da produtividade deve ajudar a compensar a área 12% menor (1,9 milhão de hectares). "Em 2013, o excesso de chuvas e as geadas tardias derrubaram o rendimento médio a 4,8 toneladas por hectare. Este ano, a projeção é de 5,2", disse Juliana Yagushi, técnica do Deral.
A Cooperativa Integrada, com sede em Londrina (PR), estima que terá produtividade acima da média estadual, de 6,5 toneladas por hectare. "A maior parte dos produtores tem um híbrido preferido de alta performance do qual não abriu mão, mesmo com os preços baixos do milho. Na nossa área, são poucos os que reduziram a tecnologia", disse Irineu Baptista, gerente técnico da Integrada. O custo de produção, diz, subiu 12,5%, para R$ 1,35 mil por hectare.
Apesar dos custos mais pesados, a recente reação nos preços do milho melhora o cenário de remuneração. Em Mato Grosso, com o enxugamento dos estoques da última safrinha (99% já vendida) e a quebra na primeira safra do grão, as cotações se aproximam de R$ 20 por saca, acima do preço mínimo de R$ 13,50. Quase 6% da safrinha deste ano já foi comercializada, calcula o Imea.
No Paraná, só 1% da safrinha foi vendida até o momento, ante 3% há um ano. Em Mato Grosso do Sul, as negociações alcançam 12%. "Na época do plantio, o prognóstico era de preços em torno de R$ 15 a saca, mas os contratos para agosto já estão a R$ 19", disse Saito, da Aprosoja/MS.
Valor Econômico
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