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Pesquisador inventa máquina de combate à Helicoverpa

Um pesquisador que atua numa universidade da Bahia desenvolveu armadilha que combate a Helicoverpa armigera em sua fase adulta, quando a praga é uma mariposa, a qual pode voar até mil quilômetros.

 

O equipamento que funciona à base de energia solar fotovoltaica atrai as mariposas por meio de uma lâmpada de LED que emite raios infravermelhos e ultravioletas.Em um ano, a armadilha seria capaz de capturar cerca de 1 milhão de mariposas.

 

O dono da invenção é o pesquisador Denes Vidal, da área de mecânica e mecanização agrícola da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, sediada no município de Cruz das Almas, a 146 km de Salvador. A invenção será apresentada este mês pelo professor na conclusão do curso que ele fez de doutoramento em Ciências da Motricidade Humana, na Universidade Técnica de Lisboa, em Portugal.

 

Vidal conta que demorou 12 anos para fazer o invento, dois deles realizando testes. Feito com ferro galvanizado e alumínio, a armadilha tem tamanhos variados, que vão de um metro e meio a três metros.O equipamento serve também para fazer o controle de espécies. Após a captura, cada inseto pode ser solto ou morto – neste caso, usando-se um estilete.

 

“Com esta armadilha, nunca haverá surto de insetos, pois a mesma fará captura diariamente. Ela é tão eficiente que pesquisadores disseram que se usada indevidamente fará desequilíbrio ambiental”, conta o inventor.

 

Em teste recente – diz Vidal – “chegamos a capturar até três mil insetos em uma noite”. Ele explica que a máquina foi feita para ser usada durante a revoada dos insetos.

 

“Cada estado tem uma época [de revoada]; agora, ela [a mariposa da Helicoverpa] está sendo encontrada no Rio Grande do Sul, em 67 cidades”, afirma.

 

O equipamento vem com uma câmera que emite fotos para o computador ou celular do produtor rural. Vidal recomenda colocar uma armadilha a cada 100 hectares.

 

Como a máquina funciona à base de energia solar e a bateria dura até um ano e meio, ela pode ficar direto no campo e o pesquisador recebendo informações, sem ter que ir até o local onde ela foi instalada.

 

Assim, as fotos enviadas ao computador ou celular servem como aviso de que está havendo muitos ou poucos insetos sobrevoando a lavoura. Outra comodidade é que o equipamento funciona de forma programada – liga e desliga sozinho.

 

Cada máquina custa de R$ 6 mil a R$ 8 mil – as mais caras vêm com as câmeras. O custo de manutenção, porém, é baixíssimo: R$ 0,007. Só é preciso passar um pano nas placas quando ocorrem as capturas.

 

“O que nos levou a fazer este invento foi a vontade de ajudar a resolver os problemas que se tornaram crônicos em nossa agricultura, a exemplo não haver ferramenta que avisasse ao agricultor do futuro ataque dos insetos e pudesse fazer o controle com pouco veneno”, diz o pesquisador.

 

A máquina é fabricada em Cruz das Almas, com capacidade instalada de produção de trezentas unidades por mês. Vidal sublinha que “as armadilhas existentes no mercado utilizam a energia hidroelétrica para acionar a lâmpada, o que limita o seu uso, uma vez que precisa de fios condutores”.

 

Segundo o pesquisador, a “intenção [do invento] é subsidiar uma agricultura sem agrotóxicos”. Procurada para comentar o invento, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Emprapa) ficou de responder à reportagem, mas isso não ocorreu.

Ações de combate

 

Atualmente, para combater a praga da Helicoverpa, que, de acordo com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), causou prejuízo de R$ 10 bilhões na safra 2012/2013, os produtores recorrem a inseticidas.

 

Em janeiro deste ano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento baixou a Portaria 31, com alterações nos artigos da Portaria 1.109, de novembro de 2013, que trata da autorização para importação do Benzoato de Emamectina.

 

Com a nova portaria, fica mais rápida a importação e uso do inseticida na lavoura. Questionado, o Ministério da Agricultura não deu resposta sobre quantidades de inseticidas já utilizados na lavoura brasileira para combater a Helicoverpa. Pela portaria, os Estados têm de estimar a área ocupada pelas culturas atacadas pela lagarta e informar a quantidade necessária do inseticida.

 

Originária da África, a Helicoverpa armigera é considerada uma dos piores pragas do mundo, tendo sido relatada sua presença em até 200 espécies vegetais. No Brasil, a praga começou a aparecer na lavoura na safra 2012/2013. Os danos econômicos são maiores em algodão e hortaliças, informa a CNA.

 

A praga é de difícil controle químico, já que possui alta capacidade para adquirir resistência aos lagarticidas presentes no mercado.

 

De acordo com a CNA, as tentativas de controle da espécie estão sendo feitas com o monitoramento da infestação e a utilização integrada de várias ferramentas de controle: armadilhas iscadas, materiais resistentes, destruição de restos da cultura, liberação de inimigos naturais e controle químico.

 

No Brasil, estima-se que a lagarta já esteja presente em todas as regiões produtoras, com uma severidade de ataque maior em regiões mais quentes e secas (cerrado). As principais culturas atacadas no país são milho, soja, sorgo, feijão, algodão, tomate e laranja.

 

No Oeste baiano, onde o prejuízo por conta da praga chegou a R$ 2 bilhões na safra passada, alguns produtores de soja chegaram ao extremo de nove aplicações de inseticidas.

 

Para o algodão, foi registrado aplicações sequenciais de quatro em quatro dias, o que pode totalizar no fim do ciclo mais de 30 pulverizações.

 

Com a praga, o aumento do custo de produção tem variado de 15% e 30%. Por cultura, estima-se elevação nos custos entre R$ 300 a 500 por hectare para a soja. Para o algodão, o custo pode chegar a R$ 900 por hectare, para o milho R$ 110 e para o feijão R$ 180.

 

Revista Globo Rural