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Para a indústria, China ficará mais agressiva nas exportações

A necessidade de elevar as exportações para atingir a sua meta de crescimento para este ano levará a China a adotar uma postura mais agressiva nas exportações. Essa é a avaliação da indústria brasileira, que sofre a concorrência dos chineses.

"A China já entrou com agressividade lá atrás e vai intensificar esse modelo para tentar exportar mais", afirma Renato da Fonseca, gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Nas últimas semanas, a China adotou medidas para estimular suas vendas externas: desvalorizou o câmbio, reduziu a taxa de juros e o depósito compulsório - as últimas visando elevar o crédito.

Para economistas, a estratégia será bem-sucedida. "Uma desvalorização de 2% ou 3% no yuan ajuda as exportações de muitas empresas chinesas, que têm uma margem de lucro muito pequena. A China é uma economia de escala mundial, eles não têm margem", afirma Hsia Hua Sheng, professor da Fundação Getulio Vargas.

Segundo Sheng, sondagens realizadas por ele com empresas no Brasil indicam que os fornecedores chineses já reduziram seus preços.

Desde que a China promoveu a primeira a desvalorização cambial, em 11 de agosto, o yuan perdeu 2,46% de valor em relação ao dólar. "A moeda continua tendo minidesvalorizações, e muitas multinacionais e analistas já falam numa taxa de 6,50", diz Scheng. Nesta terça (2), cada dólar valia 6,36 yuans.

"Vamos ter um mercado ainda mais difícil. Temos que fazer o nosso dever de casa: facilitar as nossas exportações, reduzindo burocracias e tributos, e retomar acordos comerciais", diz Fonseca.

Para ele, o país também deve apostar nos EUA, o maior importador de produtos industrializados brasileiros depois do Mercosul. "Precisamos aproveitar essa retomada nos EUA, onde já estamos presentes."

Efeitos

O perfil mais agressivo da China no comércio pode afetar ainda mais as indústrias brasileiras, que vêm perdendo espaço para os asiáticos.

Segundo sondagem da CNI obtida com exclusividade pela Folha, 16% das empresas perderam participação no mercado doméstico para a China em 2014. Em 2010, esse percentual era de 14% e, em 2006, de 10,8%.

A pesquisa, que ouviu 2.146 indústrias em janeiro, também mostra queda no número de empresas exportadoras: passou de 35% do total em 2006 para 31% em 2010 e chegou a 24% no ano passado.

Parte desse movimento deve-se à concorrência chinesa. Segundo a sondagem da CNI, 54% das indústrias exportadoras concorrem com a China no mercado internacional. Dessas, 59% perderam clientes externos para a China e 11% pararam de exportar.

Mas, segundo Fonseca, outros fatores também contribuíram para a menor presença das empresas brasileiras no mercado internacional nos últimos anos, como o aumento de custos de produção e a valorização cambial.

"Também houve uma mudança na estratégia. As empresas abriram mão do mercado externo, por diversas dificuldades, e se voltaram para o crescimento do mercado doméstico", afirma o gerente da CNI.

Quase um terço das empresas declararam adotar estratégias para concorrer com os produtos chineses, como investir na qualidade e marca dos produtos, reduzir custos e até diminuir de forma drástica os preços.

Produção externa

A sondagem da CNI mostra ainda que é baixo o percentual de empresas brasileiras que produzem na China -movimento que vem sendo adotado por empresas de várias partes do mundo para ganhar competitividade.

Segundo a pesquisa, apenas 3% das indústrias brasileiras produzem na China com fábrica própria, enquanto 2% terceirizam parte da produção para empresas chinesas.

O percentual de 5% das empresas que produzem na China não evoluiu em comparação com 2010 e é apenas 2 pontos percentuais superior ao registrado em 2006.

Fonte: Folha de S. Paulo