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Primeira soja geneticamente modificada 100% brasileira chega ao mercado

A Embrapa e a Basf lançaram nesta terça-feira (25/8) a comercialização da primeira variedade de soja geneticamente modificada 100% brasileira, chamada Cultivance. Sua tecnologia combina o uso de cultivares de soja com o uso de um herbicida de amplo espectro de ação para o manejo de plantas daninhas de folhas largas e estreitas.

De acordo com as duas empresas, a variedade atenderá todas as regiões do país, mas por enquanto será lançada em oito estados: Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rondônia, Bahia e Distrito Federal. A distribuição leva em consideração as características das cultivares que serão colocadas no mercado na safra 2015/2016 e, à medida que houver registros de novas cultivares de soja, a comercialização será expandida para outras regiões.

“É a primeira vez que uma planta de soja geneticamente modificada, completamente desenvolvida no Brasil, desde o laboratório até a comercialização, entra no mercado, com aprovação nos principais países importadores dessa importante oleaginosa”, destaca Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa. “Trata-se de uma tecnologia totalmente verde-amarela”, afirma o vice-presidente sênior da divisão de proteção de cultivos para América Latina da Basf, Eduardo Leduc.

A variedade já está aprovada para importação em 17 países da União Europeia. O diferencial está na combinação de variedades geneticamente modificadas e no uso de herbicidas da classe das imidazolinas para o controle de plantas daninhas. “Essa ferramenta, ao ser integrada ao sistema de produção de soja, abre perspectiva para que o produtor possa rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação para o manejo de plantas daninhas de difícil controle”, explica o pesquisador da Embrapa Soja, Carlos Arrabal Arias. Ele se refere à possibilidade de o produtor alternar entre diferentes tecnologias para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes.

O Brasil tem atualmente 34 casos de resistência de plantas daninhas. A cada safra, o manejo de espécies como a buva, o azevém e o capim-amargoso preocupa mais produtores, técnicos e pesquisadores. “Isso porque as plantas daninhas competem com a soja por luz, água e nutrientes, o que pode reduzir a produtividade”, explica o pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja. “Também interferem na eficiência da colheita, no aumento do nível de impurezas e na umidade dos grãos”, relata.

Longa pesquisa

O desenvolvimento da tecnologia levou quase 20 anos, considerando a pesquisa em laboratório até seu registro comercial e chegada ao campo. “Tivemos aproximadamente 35 cientistas envolvidos no desenvolvimento e na geração de dados que subsidiaram seu processo de liberação comercial no Brasil, isso sem considerar as equipes de apoio de laboratórios, casas de vegetação e campo”, explica Arias.

A Basf possui a patente do gene ahas (gene aceto-hidroxiácido sintase), extraído da planta Arabdopsis thaliana, que confere tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas. Em 1997, a multinacional disponibilizou o gene para a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que desenvolveu um método inovador de transformação vegetal, possibilitando sua introdução no genoma da soja.

A Embrapa Soja (PR) realizou vários cruzamentos genéticos para obter cultivares com potencial produtivo que expressassem tolerância ao herbicida da classe das imidazolinas. Na safra 2006/2007, a Embrapa avaliou como as plantas transgênicas se comportavam no meio ambiente.

Por três safras, foram conduzidos experimentos em sete locais do Brasil para avaliar se as plantas transgênicas tinham padrão de comportamento similar às convencionais. A soja passou ainda por testes em laboratório para análise de equivalência nutricional dos grãos e de caracterização molecular. Para realizar os ensaios a campo, a Embrapa e a Basf solicitaram à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) autorização para implantar os experimentos de soja transgênica.

Em 2009, a CTNBio aprovou formalmente a comercialização da tecnologia no mercado brasileiro e em seguida, as empresas buscaram aprovação da tecnologia nos países compradores como China e União Europeia. O primeiro registro comercial ocorreu em 2013.

Segundo a Embrapa e a Basf, a variedade só foi lançada no mercado agora porque elas aguardavam a aprovação dos importadores. “Por isso, foram quase 20 anos desde o início da pesquisa conjunta até sua regulamentação comercial nos principais países compradores da soja brasileira”, diz Arias. ao glifosato, pois esse Sistema de Produção utiliza um herbicida de outro mecanismo de ação, do grupo das imidazolinonas, registrado com o nome de Soyvance Pré. O herbicida deve ser aplicado logo após a semeadura da soja até o primeiro estágio de desenvolvimento da cultura (estádio V1) na operação denominada de Plante e Aplique.

“Cada vez mais, será preciso investir em opções de manejo que envolvam a diversificação de culturas e a rotação de químicos com diferentes mecanismos de ação”, explica o chefe-geral da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias. Nos laboratórios e campos experimentais da Embrapa, os pesquisadores, em parceria com outras instituições, vêm identificando medidas que podem ser adotadas para evitar a seleção de populações resistentes e garantir que os agricultores tenham alternativas eficientes e seguras para controlar as pragas.

Fonte: Globo Rural