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Dólar alto estimula venda antecipada da safra

Com a alta do dólar, o produtor tem optado pela venda antecipada da safra, principalmente de soja, e evitado contratar crédito de comercialização - que assegura ao agricultor e às cooperativas os recursos necessários para preservar a renda em época de queda de preços, permitindo por exemplo a armazenagem da safra até que a situação de mercado melhore. Em julho, primeiro mês do ano-safra 2015/2016, as contratações dessa linha encolheram 25,1%, quando comparadas a igual mês de 2014. No Banco do Brasil, principal operador do crédito rural, a redução foi maior ainda, de 71,59%.

A menor procura por linhas de comercialização vem desde que o dólar começou a subir, ainda em 2014. Desde então, o produtor obteve maiores ganhos, pois a moeda norte-americana mais forte vem garantindo a sustentação de preços, sobretudo da soja. Com isso, o agricultor que costumava contratar crédito de comercialização para segurar o máximo que podia a venda de sua safra à espera de preços melhores, está optando por fazer a venda antecipada agora, diretamente às tradings exportadoras, em razão dos bons patamares de preços da oleaginosa. "Muitos produtores adotam essa estratégia quando não vislumbram aumento de preço no futuro", explicou o coordenador do Departamento Técnico Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Pedro Loyola.

Para o diretor do Departamento de Economia Agrícola do ministério, Wilson Vaz de Araújo, o momento é, de fato, de boa rentabilidade para o agricultor. "Em função do câmbio observamos uma venda antecipada como mecanismo para garantir o financiamento da safra. Os produtores estão aproveitando o momento de desvalorização do real frente o dólar", observou.

O produtor rural e diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Nelson Piccoli, pondera que a venda antecipada, assim como o crédito de comercialização, é uma garantia de rentabilidade. "Boa parte dos produtores vendeu pelo menos de 50% a 60% da safra para aproveitar o dólar alto", disse. "Ele pode não ter lucratividade maior caso o dólar dispare, mas em contrapartida trava o preço e garante a renda necessária para os compromissos financeiros do próximo ano", argumentou.

No Ministério da Agricultura, o freio no crédito para comercialização e a venda antecipada da safra são vistos como algo positivo. "O crédito de comercialização não precisa ser crescente. No melhor dos mundos, o mercado está tão remunerador que o produtor praticamente não precisa contratar crédito de comercialização", argumenta o secretário de Política Agrícola, André Nassar, em entrevista. "No entanto, talvez essa situação se modifique mais à frente. Com margens de lucro mais apertadas, faz sentido usar o crédito de comercialização", ponderou.

Para Nassar, a venda antecipada da safra também indica que os agricultores têm financiado mais a safra com tradings. O secretário ponderou que em Mato Grosso cerca de 75% da safra de milho foi vendida antecipadamente e, no Paraná, aproximadamente 25% da de soja. "O produtor está se financiando com tradings. Isso é um recurso de custeio. Ele vende antecipadamente essa safra, trava o preço e pega fertilizantes e outros insumos", relatou.

Nassar fez questão de frisar ainda que essa redução de contratações em uma única modalidade não significa que as operações de crédito rural não têm ocorrido, em julho, primeiro mês do ano-safra, foi liberado 32% a mais em recursos que em julho de 2014.

Fonte: Estadão Conteúdo