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Enxurradas atingem lavouras e pastos no Sul

Chuvas ininterruptas estão comprometendo a agricultura, a pecuária leiteira e de corte no Sul do Brasil. No Rio Grande do Sul e Paraná, em menos de quinze dias, já choveu mais que o triplo da média esperada para todo o mês de julho em algumas regiões, conforme dados da meteorologia. No interior gaúcho, o estrago maior ocorre sobre as lavouras de trigo, que acabaram de ser plantadas.

De acordo com a Emater de Passo Fundo, ao Norte, o quadro climático certamente impactará no potencial produtivo da cultura. “O trigo não precisa de muita chuva para germinar. O ideal seria um clima seco e temperaturas de 5º C a 10º C e sol. Está tudo invertido. O arranque da safra não é bom e isso é muito prejudicial aos resultados. Estamos com temperaturas de 15ºC, com alta umidade e sem luz, o que é propício à instalação dedoenças. Manchas foliares já estão aparecendo nas plantas e a ferrugem asiática também ameaça a lavoura”, afirma Claudio Doro, gerente regional da Emater.

O plantio da cultura já foi problemático, com alta umidade, poucos dias de sol e concentrado entre o final de junho e início de julho, o que tende a pressionar a estrutura de armazenamento na colheita.

Como a umidade impede a entrada de máquinas no campo, os produtores também não conseguem usaragroquímicos, para prevenir o ataque de pragas, afirma Doro. Além disso, todo o fertilizante aplicado durante a semeadura pode ser perdido com o excesso de água. “A perda do adubo deixa a planta desnutrida, com fome. É possível fazer suplementação por cobertura, mas não é a mesma coisa que fazer na base, direto na semente”, ressalta Doro.

A pecuária de leite e de corte também está perdendo produtividade. As chuvas não deixam os pastos crescerem e os produtores seguram o rebanho para evitar que o gado estrague ainda mais a condição das áreas atingidas.

Na madrugada desta terça-feira (14/07) centenas de famílias da Região Metropolitana de Porto Alegre tiveram de deixar suas casas em barcos da Defesa Civil local, por causa da enchente. No Paraná, um tornado passou pela regiãoSudoeste, destruindo casas e pequenas comunidades.  Boletim divulgado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), não informa grandes problemas com as áreas de trigoparanaenses. Maior parte do terreno ocupado pela cultura (90%) está em boas condições; 9% em situação mediana e somente 1% em condições ruins.

Os dois Estados sulistas são responsáveis por mais de 80% da oferta de trigo do Brasil.

A causa

O excesso de chuvas que atinge todo o Sul é provocado pela atuação do El Niño, cuja característica principal é a de causar 'enxurradas' na região. Já no Norte e Nordeste, o fenômeno normalmente causa seca.

O agrometeorologista da Somar, Marco Antonio dos Santos, alerta que a influência do El Niño sobre o clima brasileiro deve durar até o final do ano. “Os dois oceanos [Pacífico e Atlântico] estão com temperaturas bastante elevadas. Neste ano as chuvas vão ficar concentradas sobre Santa Catarina, Paraná e metade sul de Mato Grosso do Sul, além do Norte do Rio Grande do Sul. O problema é teremos dois ou três dias de tempo aberto e depois volta a chover. Na sexta-feira (17/7) provavelmente o dia será ensolarado no  Rio Grande do Sul, mas no sábado as chuvas voltam”, avisa.

Dados climatológicos da Somar apontam que em Cascavel (Oeste paranaense) as chuvas estão 237% acima da média, considerando o acúmulo registrado até segunda-feira (13). A média é de 99,3 milímetros, mas já choveu 334 milímetros.

Em Chapecó (Oeste de Santa Catarina), os pluviômetros estão 60% acima da média, que é de 153,9 mm e o acumulado registrado está em 255 milímetros.

Já ao Noroeste e Norte gaúcho, as chuvas acumuladas estão, em média, 71% acima do normal para esta época do ano.

Fonte: Revista Globo Rural