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Soja tem ampla oferta e demanda questionável, diz especialista

O mercado de soja mantém a expectativa de pressão de baixa nas cotações. A avaliação é de David Lehman, diretor de pesquisas em commodities e de desenvolvimento de produtos do CME Group, empresa que é dona da Bolsa de Chicago (CBOT). Lehman esteve no Brasil na última semana, onde participou do seminário Perspectivas para o Agribusiness 2015/2016, promovido pela BM&FBovespa e pelo Ministério da Agricultura, em São Paulo. E também foi palestrante de um workshop, na capital paulista, onde falou sobre gestão de risco, mercados futuros e de opções.

“Eu acredito que os fundamentos apontam para baixa. Na safra passada (2014/2015), os estoques aumentaram e os preços provavelmente vão continuar sob pressão. Os fundamentos parecem bons para o lado da oferta e a demanda ainda é questionável, com a China reduzindo o seu ritmo e a União Europeia com problemas fiscais”, resume, em entrevista à Globo Rural.

Do lado da oferta, Lehman lembra que o principal fator que o mercado olha neste momento é o clima. Principalmente em relação ao plantio da safra dos Estados Unidos. Na avaliação dele, apesar do atraso na semeadura de soja em relação ao ano passado, de um modo geral, a safra vem sendo plantada próxima das médias publicadas pelo Departamento de Agricultura norte-americano (USDA).

“É um bom sinal para a safra (dos EUA). O atraso no plantio da soja só terá algum efeito se as chuvas continuarem em alguns estados. Poderia haver uma área menor nos Estados Unidos em relação ao que o USDA vem projetando. Em princípio, a chuva é para se comemorar, mas, se continuar, passará a ser motivo de preocupação”, diz Lehman.

Com relação ao Brasil, ele afirma que a percepção do mercado, de um modo geral, é de uma produção “muito boa”. Em seu relatório mais recente, aCompanhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que a safra 2014/2015 é de 96,044 milhões de toneladas,  11,5% maior que a anterior (86,12 milhões). Já o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) acredita em uma produção de 94,5 milhões de toneladas. A de 2013/2014 é calculada em 86,7 milhões.

O governo brasileiro ainda não publicou suas estimativas para a safra 2015/2016, que começa oficialmente em julho. Já o USDA aposta em produção ainda maior, podendo chegar a 97 milhões de toneladas. David Lehman, no entanto, pondera que, para o próximo ciclo, os preços mais baixos e os altos custos do financiamento da produção podem influenciar a decisão do produtor brasileiro. “Especialmente se os preços continuarem caindo e a safra americana for tão boa quanto se observa até agora”, explica.

O que poderia dar certa sustentação aos preços é a confirmação da presença do El Niño no segundo semestre, acredita Lehman. Algumas estimativas consideram uma probabilidade de até 90% de ocorrência do fenômeno climático, caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “É um fenômeno importante e temos que ficar de olhos abertos. Acredito que, no saldo, ele traria pressão altista, já que poderia provocar perdas em algumas regiões.”

Do lado da demanda, o diretor do CME Group destaca que a preocupação segue sendo com o nível de importações de soja da China, atualmente o principal demandante global. Lehman lembra que os chineses já não estão comprando volumes tão grandes quanto em anos anteriores. “Há uma preocupação com a economia da China, que está mais lenta. No entanto, os preços mais baixos podem estimular alguma demanda”, afirma. Com relação à União Europeia, o efeito sobre a demanda por grãos dependeria das medidas de estímulo à atividade econômica da região. “Se houver sucesso nesses incentivos, pode resultar em crescimento da demanda.”

De outro lado, há o esmagamento da soja no mercado interno dos Estados Unidos, que está em ritmo maior, de acordo com a Associação dos Processadores de Soja do país. David Lehman destaca que, recentemente, o governo norte-americano revisou o seu programa de uso do biodiesel. “Isso pode trazer alguma demanda para o óleo, dando algum suporte à soja, mas é algo muito mais para evitar uma queda maior do que fazer os preços subirem.”

Milho

Em relação ao milho, David Lehman destaca que a produção foi maior na safra passada e a demanda não tão forte. Segundo o USDA, a safra norte-americana 2014/2015 foi de 361,09 milhões de toneladas. A anterior tinha sido de 351,27 milhões. Os estoques passaram de 31,29 milhões para 47,65 milhões de toneladas de um ano para outro. A projeção para 2015/2016 é menor para os Estados Unidos, de 346,22 milhões de toneladas produzidas e estoques finais de 44,98 milhões de toneladas. Ainda assim, ele acredita que pode haver pressão sobre os preços caso se confirme uma larga oferta na próxima temporada.

Apesar de ver no mercado de milho um comportamento semelhante ao da soja, o diretor do CME Group lembra que é importante considerar dois fatores em particular para a oferta e demanda pelo cereal. Um deles é a produção de etanol nos Estados Unidos. O biocombustível é feito à base de milho e é uma importante fonte de procura pelo produto. “A mistura de etanol nos Estados Unidos é de 10%. Há quem acredite que possa ser aumentada para 15%. Isso poderia mudar o patamar de demanda de milho para a produção de etanol”, explica.

Outro segmento importante é o de alimentação animal, que sentiu o impacto da forte alta nas cotações internacionais ocorrida anos atrás, especialmente no período da seca nas lavouras norte-americanas. Mas com a queda nos preços, o segmento volta a demandar. “A demanda da indústria de ração caiu há alguns anos por causa dos preços altos. Agora está retornando. Eu acredito em crescimento na demanda por ração”, diz David Lehman.

Fonte: Revista Globo Rural