Presença na América Latina é desafio
A China intensifica a parceria com o país ao mesmo tempo em que amplia a presença na América Latina. Venezuela, Argentina e Peru já são importantes destinos dos recursos asiáticos na região, e o primeiro-ministro Li Keqiang vai visitá-los logo depois de passar pelo Brasil, assim como Colômbia e Chile. No Peru, Li pretende fechar acordos para a construção da Ferrovia Transoceânica, ligando o Atlântico ao Pacífico, complementando compromissos que assinará em Brasília.
Se os investimentos no Brasil são positivos, o aumento da influência chinesa nos países vizinhos pode ser um problema, se enfraquecer ainda mais as já abaladas exportações brasileiras para a região, que já sofrem forte concorrência asiática. A China vem investindo em vários setores da Argentina, maior destino de manufaturados do Brasil. Recentemente, anunciou empréstimo de US$ 10 bilhões para reforçar as reservas do país vizinho, o que deve, em contrapartida, ampliar suas exportações para lá. As vendas de produtos brasileiros para a Argentina encolheram 15,4% de janeiro a abril deste ano em relação ao primeiro quadrimestre de 2014.
O economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, destaca que os chineses querem assegurar o fornecimento de suprimentos como minérios e alimentos. Por isso, estão dispostos a investir em Infraestrutura para baratear o custo de transporte desses produtos. "Eles estão mais seletivos. O Brasil tem recursos e oportunidades, mas é importante ficar atento como serão as condições dessas parceiras", alerta.
O embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), destaca que os chineses sabem muito bem o que querem. "Acredito que essa visita do premier chinês seja útil e profícua, mas para que esses anúncios não fiquem apenas na promessa, o Brasil precisará fazer o seu dever de casa, ou seja, as reformas são a principal questão. O país deve promover a abertura para se inserir nas cadeias produtivas globais", afirma.
Na avaliação dele, a presença dos chineses na região pode ser uma ameaça ao país nesse sentido. "Temos uma economia muito fechada e estamos pagando o preço por isso", emenda o diplomata, lembrando que países vizinhos estão mais adiantados em alianças com a China e com outros países desenvolvidos.
A China é o principal destino das exportações brasileiras, mas o comércio bilateral não vive um bom momento. De janeiro a abril, o saldo do intercâmbio está negativo para o Brasil em US$ 2,5 bilhões, quase metade do deficit de US$ 5,1 bilhões da balança comercial. Se a conta continuar no vermelho, poderemos ter deficit nas transações com a China em 2015, o que não ocorre desde 2008.
Fonte: Correio Braziliense
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