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O novo líder da Aprosoja

A paixão pelo campolevou o produtor Almir Dalpasquale atrabalhar além dos limites das suas fazendas, no Mato Grosso do Sul. Engajado nas causas do setor e incentivado pelos companheiros, ele é líder em seu Estado e agora chegou à presidência da Associação Brasileirados Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Na entrevista a seguir, que foi feita logo após a posse, no mês passado, ele conta um pouco da sua história e fala sobre os desafios que aguardam a nova diretoria eleita para obiênio 2014/2016.

A Granja – Como e quando iniciou a sua ligação com o campo?

Almir Dalpasquale – Eu nascino Paraná, em Dois Vizinhos, no sul do Estado. A minha família trabalhava na indústria madeireira e, no final dos anos 1970, meu pai, Waldemar Brasil Dalpasquale, resolveu seguir seu sonho de ter um pedaço de terra para trabalhar e foi para o sul do Mato Grosso do Sul. Naquela época, iniciava a abertura do Centro-Oeste, e a minha família participou dessa história. Já no início dos anos 80, minha mãe, Célia, eu e meus quatro irmãos seguimos meu pai. Depois da chegada ao sul do Estado, fomos para o centro norte. O investimento inicial foi na pecuária e, no final dos anos 80, iniciamos na agricultura, que hoje é o nosso principal negócio. Começamos do nada e fomos aprendendo. Sofremos muito no início. Nós mesmos plantávamos, nós operávamos as máquinas, as coisas eram bem diferentes. Mas foi ótimo todo esse aprendizado, porque sei o quanto as coisas custam, como o clima pode ajudar ou atrapalhar, conheço o cheiro da terra e cada planta que cultivo. Também já enfrentei diferentes momentos econômicos do País. O dólar a R$ 4, a inflação de 100% ao mês, a agricultura no fundo do poço. E aí você olha e pensa que está perdendo tudo e percebe que precisa lutar. Mas são os desafios da vida que nos ajudam no presente e nas decisões para o futuro.

A Granja – Qual é a estruturados seus negócios atualmente?

Dalpasquale - Eu sempre me dediquei à agropecuária. Sou um fanático pela agricultura, tenho uma paixão enorme pelo trabalho no campo. A minha primeira fazenda foi em São Gabriel do Oeste. Era uma fazenda da família e hoje é minha. Meu irmão mais velho, Claudimor, é meu sócio e me ajuda muito com o trabalho, além da minha esposa, Marilene, e do meu filho, Matheus. Hoje tenho quatro propriedades no centro norte do Estado. Produzo milho, soja, sorgo e feijão em duas safras, numa área de cerca de 8 mil hectares. Tenho uma estrutura de armazenagem própria, com equipamentos de última geração. Também tenho criação de gado em duas fazendas, num rebanho entre 2 mil e 3 mil cabeças. Minha pecuária é altamente tecnificada, com uma lotação entre 2,5 e 3 cabeças por hectare. Faço cria, recria e engorda e, ainda em 2014, espero iniciar um confinamento. Nas propriedades onde temos gado, faço integração lavoura-pecuária em toda a área.

A Granja – Como iniciou a sua relação com as entidades representativas do setor?

Dalpasquale – No “caminhonaço”realizado em Brasília no início dos anos 2000 tivemos um embate com a Polícia Federal e eu fui defender um amigo que na época era presidente do Sindicato Rural de São Gabriel do Oeste. A partir desse episódio, passei a ter um contato maior com as autoridades, e aquele ato criou um clima de liderança no meio rural. Os amigos me incentivavam e os caminhos aos poucos foram abertos. Na época, eu também passei a ter uma relação mais próxima com o Eduardo Riedel, que hoje é presidenteda Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grossodo Sul). Ele me chamava para conversar, para participar das reuniões, até que fui convidado para fazer parte da diretoria da Federação, onde hoje sou diretor-tesoureiro. Saí da vivência apenas no meu meio e passei a conhecer realidades diferentes. Passei a andar pelo Estado para conversar com outros produtores e conhecer os problemas. E, como de uma semente nasce uma lavoura, em 2007 ajudei a fundar a Aprosoja do Mato Grosso do Sul, da qual fui presidente por duas gestões, até o final do ano passado. Há três anos também sou diretor executivo do Fundo de Desenvolvimento das Culturas do Milho e da Soja de Mato Grosso do Sul (Fundems).

A Granja – E como surgiu a possibilidade de presidir a Aprosoja Brasil?

Dalpasquale - Quando o Glauber (Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil por quatro anos) foi reeleito na gestão passada, fui chamado para disputar a presidência, mas considerei que não estava preparado. De qualquer forma, me coloquei à disposição para apoiar a presidência e ressaltei que gostaríamos de ter como líder algum representante do Mato Grosso do Sul, já que o atual presidente não poderia ser reeleito. Trabalhei para buscar um nome no meu Estado, mas muitos pediram que eu considerasse a possibilidadede ser o presidente. Assim, acabei aceitando o desafio.

A Granja – E o que muda na sua rotina a partir de agora?

Dalpasquale – Estou muito bem assessorado pela equipe da Aprosoja Brasil e, dentro da necessida de política, estarei em Brasília ou em outros Estados para trabalhar no que for preciso. Mas vou dividir o meu tempo, porque não posso me distanciar do meu Estado, onde tenho um compromisso de trabalho com a Famasul, e também não tenho como ficar longe das minhas propriedades.

A Granja - Quais são os seus planos e objetivos iniciais à frente da Aprosoja?

Dalpasquale – Acredito que o restante de 2014 será tranquilo. Teremos a Copa do Mundo e as eleições estaduais e federal. Cada Estado vai ser dedicar muito a isso, com demandas maiores na área política. A não ser, claro, que aconteça algo emergencial. Um dos focos iniciais do nosso trabalho é tentar promover uma maturidade maior aos Estados onde a Aprosoja está presente. O Glauber ajudou a criar várias associações pelo País e a mim cabe dar uma certidão de nascimento a elas para que caminhem com as próprias pernas, tanto no sentido administrativo quanto financeiro. Queremos dar ferramentas de trabalho às associações. Parece uma tarefa fácil, mas é uma coisa bastante complicada. É necessário ter um orçamento anual, um planejamento detalhado, assim como foi feito em Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, onde as associações já estão consolidadas.

A Granja - Hoje a Aprosoja está em 12 Estados do País. Existe a intenção de ampliar ainda mais essa atuação?

Dalpasquale - O Glauber fez um trabalho fantástico andando o País todo, e acho que ainda há bastante a ser feito com essas 12 associações. Claro que, se algum outro estado manifestar à vontade, daremos as bases para ajudar. Atualmente, a nossa ênfase está em buscar soluções para os problemas locais, fornecendo amparo legal para as associações para que as mesmas consigam dar apoio aos seus produtores nas diferentes questões. Hoje, os maiores produtores de grãos do País estão ligados à Aprosoja, mas é preciso dizer que estamos aqui para representar todos os perfis de produtores, desde os pequenos até os grandes.

A Granja – Como o senhor resume a importância da Aprosoja para o produtor brasileiro nesses últimos anos?

Dalpasquale – A Aprosoja participou de muitas conquistas importantes para o setor. Uma das mais recentes foi a ajuda na formatação donovo Código Florestal com entidades como a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). A Aprosoja deu suporte à Frente Parlamentar da Agropecuária para as mudanças na legislação. A associação também vem participando ativamente, junto com os órgãos públicos, da abertura de novos mercados para nossos produtos agropecuários. Estamos sempre mostrando nossa bandeira lá fora.

A Granja – Além da atuação junto às regionais, quais são os desafios da Aprosoja pensando no produtor brasileiro, de uma forma geral?

Dalpasquale – Nesse momento temos alguns assuntos importantes que precisam ser tratados, como o direito de propriedade em relação à questão indígena e em regiões de fronteira. Também temos desafios relacionados aos agrotóxicos, no que diz respeito aos genéricos e à liberação de novos produtos. Às vezes, a impressão que temos é que os temas ligados ao produtor rural têm um peso diferente. Mas somos produtores de alimentos e não vilões na sociedade. Outra questão é continuar trabalhando para descongestionar e tentar amenizar essa agonia que encontramos na nossa logística. Praticamente dobramos a produção com crescimento pífio de área e, ao mesmo tempo, nossas estradas e nossos portos continuam iguais. Isso tem custado muito caro para o produtor e para a sociedade brasileira, de forma geral. São coisas que precisamos tirar dos protocolos e das reuniões para termos soluções de verdade.

A Granja – Em pouco tempo iniciará o cultivo de uma nova safra no País. Qual é a avaliação do Plano Agrícola e Pecuário lançado no mês passado pelo Governo para amparar financeiramente a safra 2014/2015?

Dalpasquale - Acho que o Plano Safra melhora a cada ano, de uma forma geral. Antigamente não tínhamos dinheiro para plantar, e agora temos e conseguimos a verba muito antes da safra. Temos dinheiro para investimento, armazenagem, escoamentoe seguro agrícola. Hoje, o nosso maior problema está do lado de fora da porteira, e é a logística ineficiente. Não adianta termos caminhões modernos, mais econômicos, com uma alta capacidade de carga, se eles precisam descarregar em portos com estruturas que têm entre 20 e 30 anos. Hoje, o caminhão que saiu da região produtora para voltar em 24 horas fica uma ou duas semanas parado para descarregar num porto. Aí, o custo bate na porteira, porque o produtor terá que contratar novos caminhões e pagar mais por isso. São desafios importantes, mas acho que o Governo vem olhando para eles também. Esse é um tema que merece a discussão e a nossa reivindicação para que evolua. Quanto ao Plano Safra, mesmo com a alta de juros que houve em algumas linhas, acredito que está melhorando a cada ano, ainda mais se compararmos ao passadoda nossa agricultura.

Revista A Granja