Custo do frete rodoviário sobe o triplo da inflação em cinco anos
O custo do frete rodoviário de cargas, responsável pelo transporte de 65% de todas as mercadorias do país, dobrou nos últimos cinco anos. A alta, de mais de 100% nos gastos, supera em três vezes a inflação oficial do período, que ficou em 31% no índice acumulado de 2009 até o final de 2013. Além de prejudicar as empresas do setor, o aumento também acaba pesando no bolso do consumidor final.
Somente no ano passado, os custos operacionais do transporte subiram 7,9%. Os aumentos de 17,3% no gasto com diesel e de 10,2% nas despesas com salários de motoristas e ajudantes foram os fatores de maior peso. Para piorar, com estradas precárias e um plano de concessões parado, os gastos mais altos não vieram acompanhados de produtividade.
Como o frete não é tabelado, não há como medir quanto de fato foi repassado por transportador, de acordo com a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). A associação informa que, de acordo com uma sondagem feita com 132 empresas do ramo, a maioria repassou um aumento de 5% no valor do frete ao longo do ano passado – um pouco menos do que a inflação do período. “É impossível absorver altas tão persistentes. O transporte representa quase metade do preço de alguns produtos da cesta básica”, afirma o membro do conselho de infraestrutura da MV Logística Sebastião Almagro. “Parte disso explica porque esses produtos são campeões da inflação”, completa.
Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), Gilberto Cantú, o setor enfrenta uma dificuldade ainda maior para tentar diminuir os custos. “Os fornecedores de insumos são monopólios ou oligopólios, o que complica a negociação. Somente a Petrobras fornece o diesel, são poucas empresas de caminhões e de pneus, por exemplo. Não tem como escapar.”
Ineficiência
Altas nos preços à parte, a baixa produtividade do setor também encarece as operações. “O maior problema é o custo do minuto parado. Ele dobrou nos últimos anos”, afirma o presidente da transportadora Cargolift, Markenson Marques.
Os principais motivos são portos e estradas sobrecarregados, além das mudanças na legislação que, visando uma maior segurança para os motoristas, acabaram encarecendo as operações e aumentando o tempo das viagens. “São mudanças necessárias, mas que impactaram sensivelmente nas planilhas de custos das empresas”, afirma o diretor técnico executivo da NTC&Logística, Neuto Gonçalves dos Reis.
Segundo ele, a maior parte das empresas consegue apenas 2% de rentabilidade sobre as vendas – proporção considerada muito baixa para a atividade. Por isso, inclusive, segundo a associação, a média do endividamento das transportadoras chega a 60% do capital da empresa, enquanto o saudável seria um patamar de 35%.
Gazeta do Povo
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