EUA abrem espaço e embarque de soja brasileira deve crescer
Produtores de soja podem se beneficiar com uma possível falta da oleaginosa nos Estados Unidos nos próximos meses. Relatório de inspeções semanais de exportação, elaborado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado ontem, indica que o país exportou cerca de 940 milhões de toneladas, mais do que o esperado pelo mercado. Com isso, os norte-americanos deverão ter menos grão disponível ao mercado e abrir espaço para o segundo maior produtor mundial: o Brasil.
Em contrapartida, a queda de preços ocorrida na última semana - impulsionada pelo adiamento das importações de soja na China - não se manteve e os valores de negociação do grão voltaram a subir. Em Chicago, os contratos para maio de 2014 fecharam ontem a US$ 13,915 por bushel, alta de 0,22%.
O consultor em gerenciamento de risco da FCStone, Marcelo Bartholomeu, diz que a especulação também colaborou para o movimento pontual de derrubada dos preços da soja na semana passada. "Este mercado tem menos liquidez que os demais, por isso sofre influências mais intensas mediante qualquer notícia. Houve o comentário de que a China reduziria suas importações de 69 para 68 milhões de toneladas, mas não foi nada oficial e mesmo assim não seria representativo para os exportadores. Na verdade, o país asiático deve voltar a importar entre abril e junho", afirma Bartholomeu.
"A China freou temporariamente suas importações porque tem estoque. Grande parte das exportações dos Estados Unidos foram compradas pelo girante asiático. Além disso, os chineses acharam que os navios brasileiros de entrega do grão chegariam atrasados - como ocorreu no ano passado - mas houve uma eficiência logística nacional e a China recebeu soja tanto norte-americana quanto do Brasil", explica o diretor da Sim Consult - Centrogrãos, João Birkhan.
Outro ponto que movimenta os mercados é a ação dos traders. O consultor da FCStone enfatiza que este tipo de negociador "não entende especificamente de produtividade e, mediante um possível problema na China, poderiam se retirar do mercado. Isto causaria uma avalanche de produto e, consequentemente, a derrubada dos preços".
América do Sul
De acordo com Bartholomeu, a China viu um fator de risco na produção atual da América do Sul, que poderia ter a safra abalada por intervenções climáticas, e optou por comprar mais dos Estados Unidos.
A Argentina, terceira maior produtora mundial da oleaginosa, chegou à safra recorde em regiões como a província de Córdoba, o norte da província de Santa Fé e o leste de Entre Ríos. Porém, "os produtores não estão querendo comercializar soja pelo preço do câmbio e, se o peso continuar a se valorizar, eles recebem menos", de acordo com o consultor da FCStone.
"Sendo assim, Brasil e Estados Unidos são os mercados mais seguros para atender a demanda internacional", diz a chefe da assessoria técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rosemeire Santos.
Clima
A especialista da CNA comenta que há uma grande expectativa sobre a safra do Brasil, mas os dados só podem ser consolidados quando começar a colheita. "Até lá, o mercado gira em torno de muitas especulações", diz.
Diferente do que houve em diversas culturas, a soja não foi afetada pela estiagem. Pelo contrário, as regiões de plantio enfrentaram longos períodos de chuva e, por conta disso, registraram baixos níveis de quebra na produção. O produtor Geisom Limeira, da região de Sorriso, no Mato Grosso, disse que os dias chuvosos não afetaram sua plantação. "A chuva foi bem localizada, focada em algumas cidades e não foi o caso da nossa. Colhi até mais do que esperava", afirma.
De acordo com o diretor da Sim Consult, a quebra na safra será de cerca de 5% em algumas regiões, mas "o momento é indiscutivelmente positivo para a soja".
DCI
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