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Desempenho fora da porteira prejudica todo agro brasileiro

Se tem uma modalidade em que o Brasil é campeão absoluto é o desperdício no transporte. Ninguém no mundo consegue, tanto quanto nós, jogar grãos nas estradas. Uma cena que se repete por todo país.

O chamado transporte curto, do campo até os silos, pode representar um grande prejuízo para os agricultores. Cooperativas e cerealistas estimam que durante o percurso, meio por cento da carga fique pela estrada. Quantidade que pode chegar até a três sacas por caminhão.

O problema é parecido no transporte longo, que é aquele dos armazéns até os portos ou indústrias esmagadoras.  Na safrinha 14/15 Mato Grosso colheu cerca de 15 milhões de toneladas de milho. Considerando ambos trechos de transporte ficaram pelas estradas cerca de 115 mil toneladas do grão. Volume suficiente para encher mais de 3.100 caminhões, com capacidade para 37 toneladas cada um. Esse desperdício todo transformado em dinheiro, a conta surpreende. “Isso representa, considerando o valor da saca de milho de hoje, cerca de R$ 35 milhões”, alerta Cid Sanches, gerente da Aprosoja-MT.

Um estudo da CNT chamado “Transporte & Desenvolvimento: Entraves logísticos ao escoamento de soja e milho” comprova os graves problemas existentes no escoamento da produção no país. Somente as condições do pavimento das rodovias levam a aumento de 30,5% no custo operacional. Se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria economia anual de R$ 3,8 bilhões.

Esse desperdício emperra o objetivo de tornar o Brasil um grande player do mercado internacional de milho.

Para o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, presidente executivo da Abramilho, o Brasil tem fôlego para crescer em produtividade e aumentar significativamente a produção. "É o que demonstram o domínio do cultivo no Cerrado, implantação da safrinha, plantio direto e possibilidade de recuperação de pastos degradados. Isso sem falar no potencial de irrigação do país".

Fora da porteira, porém, surge a grande diferença em relação ao nosso principal concorrente, os EUA. No Brasil 65% dos grãos é transportada por rodovias, três vezes mais que no competidor. Na Argentina, o percentual é de 84%, mas as distâncias médias entre regiões produtoras e portos vão de 250 km a 300 km. Nos EUA e Brasil, as distâncias são em torno de 1.000 km. O Brasil utiliza 9% de hidrovias no escoamento, e os EUA, 49%

"Nos Estados Unidos, os agricultores não têm clima para plantar duas vezes ao ano e, por isso, investem toda energia em uma grande safra. O resultado são híbridos adaptados a cada uma das regiões produtoras e dispêndio de fertilizantes que chega a ser de 500 a 1.000 kg/ha, enquanto nós usamos 200 kg/ha", afirma o presidente da Abramilho.

Enquanto os investimentos não vêm, o Brasil rural amplia a área plantada na segunda safra, seja irrigando áreas onde falta chuva, como é o caso do Matopiba. Ou promovendo o plantio do milho onde há condições de implementar sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF).

De olho no futuro, Paolinelli acredita que não vá demorar muito tempo para o Brasil ombrear os EUA também nessa cultura, porém, terá que investir pesadamente em transporte.

O ex-ministro da Agricultura ressalta que “a competitividade do agronegócio brasileiro está condicionada à existência de um sistema logístico eficiente”. De acordo com ele, “os projetos de transporte precisam ser implementados com uma visão sistêmica, integrando ferrovias, portos, hidrovias, rodovias e terminais de transbordo”.

A CNT calcula que para melhorar o escoamento de soja e milho no Brasil, seria essencial investir R$ 195,2 bilhões, dos quais R$ 80,1 bilhões em ferrovias, R$ 60,5 bilhões em rodovias, R$ 34,0 bilhões em navegação interior, R$ 18,8 bilhões em portos e R$ 1,8 bilhão em terminais.

Um planejamento estratégico para eliminar os gargalos de produção, além de outros importantes temas ligados ao agronegócio, será debatido no Global Agribusiness Forum - GAF 2016, que acontece nos dias 4 e 5 de julho de 2016, em São Paulo/SP. Acompanhe todas as informações sobre este grande encontro de líderes no site: www.globalagribusinessforum.com.br e nas redes sociais.

Fonte: Abramilho