Milho safrinha surpreende e preço sente peso da oferta
Os primeiros volumes da segunda safra de milho já começam a sair dos campos no Brasil e, ao contrário do que se poderia imaginar, o atraso no calendário da cultura trouxe mais benefícios que prejuízos às lavouras. Mesmo com boa parte do plantio realizado fora do período ideal, a boa umidade em abril e maio permitiu que o grão se desenvolvesse bem nas mais importantes regiões de cultivo, turbinando a produtividade – e adicionando pressão às cotações.
“A chuva está se estendendo até agora, o que não é comum no Cerrado brasileiro”, diz Nery Ribas, gerente-técnico da Aprosoja-MT, que representa produtores de grãos de Mato Grosso. No Estado, maior produtor nacional de milho, as precipitações costumam cessar em abril.
Por conta da seca que empurrou o plantio de soja em setembro do ano passado, a colheita da oleaginosa atrasou e retardou também a semeadura de milho, feita na sequência. Em torno de 36% da área com milho em Mato Grosso foi plantada com atraso, conforme Ribas, por isso parte considerável da produção correu o risco de sofrer com a escassez hídrica.
A umidade na atual fase da safra não é mais tão favorável, uma vez que pode causar doenças na espiga, mas foi essencial para deixar bem encaminhado um rendimento de 100 sacas por hectare – acima das 86 sacas que o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) previa há um mês.
Com isso, o Imea estima uma colheita 80 mil toneladas maior que a do ano passado, de 17,8 milhões de toneladas, ainda que em uma área 8% menor, de 2,96 milhões de hectares. A Conab prevê um volume próximo, de 17,32 milhões de toneladas. “O lado ruim da maior produção é que os preços tendem a ir ladeira abaixo. Há produtor que chegou a fechar negócio por R$ 15 a R$ 16 por saca. Agora, já está caindo para R$ 12 a R$ 14″, conta Ribas.
De fato, as cotações já se ressentem não apenas da expectativa de maior oferta, mas também de uma freada na valorização do dólar sobre o real – ainda que uma nova rodada de alta da moeda americana tenha possibilitado alguma compensação nos últimos dias.
“Os negócios chegaram a dar uma travada, mas Mato Grosso vai entrar bem vendido, com 58% a 60% da safra comercializada, impulsionada pela alta do dólar nos últimos 30 a 60 dias”, afirma Ramicés Luchesi, da corretora MT Grãos, de Nova Mutum (MT). Cálculos do Imea indicam que Mato Grosso iniciou maio com 53,16% da safrinha vendida, ante 21,01% um ano atrás.
No Paraná, vice-líder na produção de milho, a comercialização totalizava 13% no início de maio, acima da média de 6% a 7% para o período, conforme o Departamento de Economia Rural do Estado (Deral).
Edmar W. Gervásio, analista do Deral, conta que muitas cooperativas ofereceram um preço futuro melhor que o de balcão (à vista), por isso os produtores intensificaram as vendas antecipadas. “Entre março e abril, as cotações para entrega física estavam em torno de R$ 20 por saca. Já para entrega no decorrer da colheita, entre R$ 23 e R$ 25″, afirma.
A colheita no Paraná alcançou 2% da área plantada na última semana. Como em Mato Grosso, as lavouras paranaenses estão em ótimas condições, ainda que não esteja descartado o perigo de geadas em junho. “Em um cenário otimista, podemos chegar às 10,3 milhões de toneladas da safrinha passada”, adianta Gervásio. Atualmente, o Deral estima 10,05 milhão de toneladas.
Fonte: Valor
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