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Mercado imobiliário chinês e importações de soja: existe uma correlação?

O mercado imobiliário residencial chinês vem ‘voltando à realidade’ nos últimos meses. A enorme bolha especulativa que se formou no país nos últimos anos vem aos poucos perdendo força. Como mostra o gráfico ao lado, preços de novas residências na China estão agora 6% abaixo de onde estavam um ano atrás.

O declínio ainda é ‘suave’, levando-se em consideração toda a alavancagem e engenharia financeira que serviu para atrair milhares de especuladores ao mercado residencial chinês. Tal movimento especulativo previne uma grande maioria dos ‘novos migrantes’ que foram do campo para as cidades nos últimos anos, de poder não só comprar, mas também até alugar tais imóveis.

Por que isso é relevante ao mercado de grãos? Porque a atratividade da valorização do setor de construção residencial e civil na China tem sido um dos grandes responsáveis pelo aumento de compras de soja por parte de players de outras indústrias nos últimos anos. Toma-se como exemplo o maior importador de soja no país.

O Grupo importa mais de 10 milhões de soja por ano e esmaga apenas em torno de 10 – 20% desta quantidade. Grande parte de suas compras são feitas como meio de acesso à financiamento fácil junto à bancos chineses: empresas tiram empréstimos para comprar soja em grão, levam a soja ao país aonde ela é vendida e os fundos obtidos na venda são utilizados para operações em outros setores, principalmente no mercado imobiliário.
Desta maneira, players escapam das restrições que o governo chinês fez nos últimos anos ao acesso à financiamentos imobiliários. Estas transações vem sendo feitas por pequenos, médios e grandes players há anos na China, envolvendo commodities como soja, cobre, algodão e até minério de ferro, entre outras.

Isto funcionava muito bem enquanto valores de imóveis não paravam de subir e a economia crescia rapidamente. Mas e agora? Bem, agora não só a atratividade para tal operação é muito menor, mas o governo chinês vem apertando o tranco desde ano passado em cima de tais transações. Em vários casos, depósitos iniciais necessários para tais transações que era de apenas 5%, agora se aproxima de 25 – 30%, tirando a viabilidade de tais operações para vários pequenos e médios players e causando até grandes players à repensar a estratégia.

O volume total de ‘compras especulativas’ de soja na China é desconhecido, apesar de algumas estimativas apontarem para um número entre 10% - 20% das compras totais de soja no país sendo feitas através de tais mecanismos. Com o mercado imobiliário em retração, a economia chinesa crescendo mais lentamente e os requisitos financeiros mínimos para tais transações mais altos, estimasse uma possível redução entre 2 – 4 milhões de toneladas de soja importada através de tais mecanismos em 2014/15. Isto não significa que o volume de importação total da China irá ser reduzido, apenas, que o ritmo de crescimento nos próximos anos pode ser mais cadenciado do que vem sendo nos últimos anos...

Vale a pena refletir...

Pedro Dejneka é sócio-diretor da AGR BRASIL, empresa de consultoria voltada para o mercado brasileiro e sediada em Chicago. Saiba como obter o relatório diário da AGR BRASIL no site da consultoria www.agrbrasil.com

Globo Rural