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Leilão terá pouco efeito para segurar preço do milho, considera analistas

A intenção do governo de vender até 500 mil toneladas dos estoques oficiais de milho – como anunciado pela ministra da Agricultura, Katia Abreu, pela sua conta no Twitter – pouco deve ajudar na contenção dos preços internos. Analistas consultados pela Globo Rural observam que o volume, que corresponde a um terço das reservas públicas, é muito pequeno e, se houver efeito sobre as cotações, deve durar pouco tempo.

Paulo Molinari, analista da consultoria Safras & Mercado, afirma que “é um estoque pequeno que está todo em Mato Grosso”. Ele acredita que se o governo tivesse de 5 a 6 milhões de toneladas, poderia até fazer algum efeito. “Seria melhor escoar esse milho para consumidores pequenos da região Nordeste”, diz ele.

A realização de leilões foi reivindicada principalmente pelas cadeias produtivas de aves e suínos. Lideranças das entidades do setor se reuniram nesta semana com André Nassar, ministro interino da Agricultura, para demonstrar preocupação com o aumento dos preços do cereal, principal insumo da ração animal.

O consultor gaúcho Carlos Cogo lembra que o estoque oficial total de milho, de cerca de 1,5 milhão de toneladas, atende a menos de 3% da demanda doméstica, o que limita a capacidade do governo de interferir. Mesmo assim, entende que o Ministério da Agricultura exerce o seu papel de tentar acalmar o mercado neste momento.

“Pode dar uma tranquilizada, mas não por muito tempo. Os preços subiram muito e a situação é apertada. Mesmo com a safra nova, não dá para pensar em níveis muito mais baixos”, explica.

Exportações

De acordo com os especialistas, a alta nos preços está relacionada principalmente às exportações de milho. Estimuladas pelo dólar valorizado em relação ao real, as vendas externas ficaram próximas de 30 milhões de toneladas em 2015, ajudando a dar sustentação às cotações internas.

Na opinião de Carlos Cogo, o ritmo de embarques tende a cair com a entrada da safra de soja que ainda está no início da colheita. Segundo ele, os exportadores devem dar prioridade à oleaginosa, que tem maior liquidez. Por isso, os negócios com milho devem ser direcionados para o mercado interno, atendendo a avicultura e suinocultura.

No entanto, quem depende de milho deve ver pelo menos mais 7,5 milhões de toneladas serem embarcados com destino aos clientes externos do cereal brasileiro até fevereiro. É este o volume já nomeado para embarques nos terminais portuários, informa o consultor João Birkhan, do SIM Consult, em Mato Grosso.

“A atuação do governo é conveniente, mas é uma gota no oceano. Antes da safra nova, não tem como aliviar a situação. A safra que vem também não resolve, mas dá um alívio. Se a produção de verão no Paraná não tiver problemas, ajuda. Depois vem a safrinha de Mato Grosso”, diz.

Pelo menos até o momento, a safra paranaense dá sinais positivos. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria da Agricultura do Estado, a colheita chegou a 2% da área. Nas lavouras ainda a ser colhidas, 89% são consideradas em boas condições e apenas 1% é considerada ruim. O Deral registra que 28% das plantações estão em fase de maturação e 59% em frutificação.

A área plantada de milho verão no Paraná é estimada em 429,23 mil hectares, que devem render 3,69 milhões de toneladas. Confirmados esses números, em comparação com a safra 2014/2015, a queda na produção deve ser de 21%.

Fonte: Revista Globo Rural