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Irrigação sustentável com injeção de gás carbônico no solo

No Brasil, cerca de 70% da água é usada na agricultura, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Montes Claros desenvolveram uma técnica para reduzir o desperdício na irrigação, principalmente em regiões com grande concentração de calcário. Trata-se da injeção de gás carbônico durante o procedimento.

Francinete Veloso Duarte, professora do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG do câmpus Montes Claros, explica que, de uma forma geral, há a opção de fornecer água diretamente no pé da planta (gotejamento) ou numa área bem próxima a ela, quase como uma pulverização (microaspersão). "Dessa forma, usa-se quase toda a água recebida." Mas quando a água é calcária - como na maioria da região semiárida -, é inviável o uso desse sistema de irrigação porque ocorre o entupimento rápido dos emissores. "O processo utilizando o CO2 acaba permitindo a irrigação localizada em regiões em que a água é calcária", compara.

O semiárido brasileiro enfrenta escassez de água superficial, sendo muito utilizada a água subterrânea para a produção agrícola. No caso dessa região, a água disponível é a calcária. "Devido aos problemas provocados pelo calcário, utiliza-se a irrigação convencional, por aspersão e por pivô central, mas a eficiência do aproveitamento da água emitida para a planta é de 60%, ou seja, 40% da água é desperdiçada. Além disso, a energia gasta para ser bombeada até a planta também é desperdiçada", detalha a pesquisadora.

A professora da UFMG estima que o novo método vai possibilitar a redução de até 20% no consumo de água para irrigação, aumentando a sustentabilidade da atividade e permitindo o uso da técnica também em regiões com escassez de água. "Além de promover a sustentabilidade da produção agrícola, imobiliza certa quantidade de CO2 que iria para a atmosfera", explica. "Poderia levar as indústrias a fazerem a separação do gás carbônico antes de emitirem seus efluentes gasosos para a atmosfera. A utilização na irrigação pode favorecer a produtividade de algumas culturas, sendo que uma parte do CO2 é absorvida pela planta, outra volta para a atmosfera e outra fica mineralizada no solo na forma de carbonato."

A estimativa é de que, inicialmente, o custo da técnica seja maior - varia de R$ 500 a R$ 1 mil por hectare -, pois a produção atual de gás carbônico é destinada a poucos aplicações. Porém, com o aumento da utilização pelos irrigantes, a produção do gás deverá ser aumentada, reduzindo consequentemente os custos. Francinete Duarte conta que a tecnologia está em fase de aperfeiçoamento de estudo de custos para médios e grandes produtores.

"O sistema de injeção de CO2 no sistema de irrigação, assim como a determinação da quantidade de gás injetado, é protegido pelo know-how registrado. A proteção de segredo industrial significa que a forma e a determinação de parâmetros são de conhecimento dos pesquisadores, sendo necessária a transferência do know-how para ser implantada", complementa.

Aperfeiçoamento

A pesquisadora aponta uma desvantagem desse tipo de irrigação: a exigência de um sistema de filtração da água mais eficiente do que o sistema convencional, por aspersão e pelo pivô. "Isso porque seus emissores têm diâmetro reduzido, podendo entupir com facilidade até mesmo com o calcário da água. Daí a necessidade desse trabalho. Sob outros aspectos - consumo de água e degradação do solo -, a irrigação localizada é mais sustentável do que a convencional. Como aplica água de forma bem direcionada para a planta, o desperdício é menor", garante.

O estudo integra os 16 projetos de quatro universidades e centros de pesquisa do norte de Minas apoiados pelo Programa de Incentivo à Inovação, realizado pelo Sebrae em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Resultado da tese de doutorado de Francinete Duarte, contou com a orientação de Wilfrid Keller e do co-orientador Edson de Oliveira Vieira, ambos da UFMG.

Fonte: Correio Braziliense