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Indepêndencia logística

Uma década após bloqueio à soja transgênica, em Paranaguá, o Paraguai tem frota de 3 mil barcaças exportando soja via Argentina . E vê o agronegócio brasileiro como cliente.

O Paraguai deixou de ser dependente da estrutura de exportação de grãos do Brasil e se tornou exemplo de aproveitamento dos recursos disponíveis. O país avança e se consolida não apenas em produção, como em infraestrutura logística de escoamento dessa produção. Um sistema que movimenta 3 mil barcaças nos rios Paraná e Paraguai – e carrega navios de soja na região de Rosário, na Argentina – prova ser mais viável do que o arranjo logístico que se amparava nas rodovias brasileiras. Sem acesso ao mar, mas com uma hidrovia em franca estruturação, a logística paraguaia avança em competitividade. E passa a ver o Brasil como cliente.

Em viagem de 3,5 mil quilômetros pelo Paraguai, a Expedição Safra Gazeta do Povo apurou que, ao mesmo tempo em que planeja retomar embarques de grãos via Brasil, no Porto de Paranaguá, o sistema logístico paraguaio torna-se uma alternativa para exportação de soja brasileira – de Mato Grosso do Sul e possivelmente do Paraná e de Mato Grosso. Sob as regras do mercado, as fronteiras desaparecem e o que manda é a viabilidade, determinada por custos competitivos. No caminho pelo rio, surge uma nova e alternativa rota ao escoamento da produção de grãos da América do Sul.

Curiosamente, a reviravolta paraguaia foi uma resposta a restrições brasileiras impostas no início da década passada. A produção e a exportação de soja começavam a decolar no país quando, em 2003, o governo do Paraná anunciou proibição à produção e ao transporte de grãos transgênicos, largamente cultivados no país vizinho. O Porto de Paranaguá, a principal porta de saída da soja paraguaia, teria de ser desviado.

“Até 2004, toda a logística era voltada a Paranaguá. Na época, o Paraguai tinha 16 rebocadores e 100 barcaças. Hoje são 150 rebocadores e perto de 3 mil barcaças, a terceira maior frota do mundo”, afirma Mario Frutos, vice-ministro paraguaio de Agricultura. As avaliações dos setores público e privado indicam que o embarque de grãos pode passar de 5 milhões para 10 milhões de toneladas. Considerando todas as mercadorias, a movimentação é estimada em 20 milhões de toneladas/ano nos 37 terminais de embarque.

A ampliação dos embarques ocorre aos poucos. A indústria naval coloca na hidrovia composta pelos rios Paraná e Paraguai 100 barcaças novas ao ano. Essa frota compete por serviço e faz os custos do transporte caírem, relata o diretor de Planejamento do Ministério da Agricultura, Santiago Bertoni.

Com 20 a 30 barcaças, os comboios levam em média três dias para chegar aos terminais da região de Rosário, na Argentina, onde as cargas passam a ser transferidas para navios de 60 mil toneladas de grãos. Cada barcaça carrega de 1,2 mil a 5 mil t, dependendo do tamanho da embarcação e do trecho da hidrovia. Três comboios podem carregar um navio.

O custo do escoamento fica entre US$ 50 e US$ 100 por tonelada, relatam os produtores. Por melhorias na estrutura disponível e pela demanda por soja de janeiro – quando o Paraguai abre a colheita sul-americana –, foi possível travar esse índice em US$ 50/t neste ano, conta o produtor José Pellenz. Isso equivale a metade do custo do Brasil.

Fonte: Gazeta do Povo (AgroGP)