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Febraban: acesso ao crédito rural é limitado e oferta está concentrada

Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que o crédito rural é altamente concentrado no Brasil. Segundo Ademiro Vian, diretor da instituição, apenas 48,5% dos produtores tomam esses recursos para se financiar. "Se ponderarmos que cada produtor tem mais de um contrato, em alguns casos até quatro, esse porcentual cai para algo ao redor de 28%", calculou.

Vian participou nesta quinta (30/7) do seminário Financiamento ao Agronegócio, realizado em Brasília pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE). O executivo também fez críticas à capilaridade dos bancos que oferecem crédito rural. "Estamos hoje em situação de dificuldade de capilaridade para oferta de crédito rural. A quantidade de bancos, que era de 49 em 1999, agora está em 37. Nossa distribuição do crédito no País caiu significativamente", observou.

O executivo disse, ainda, que a prioridade para o agronegócio brasileiro é ter preço, logística e infraestrutura. "O crédito vem como combustível para essa máquina funcionar. É preciso priorizar a renda, revendo a política de preços mínimos", defendeu.

Ele argumentou que também é preciso rever os instrumentos de comercialização, implementar o resseguro doPrograma de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e fez outras sugestões e críticas. "Precisa remodelar o seguro rural, descolar ele do crédito. Precisa eliminar as sobreposições para dar mais eficiência e governança ao Proagro tradicional, Proagro Mais e Seguro Rural", disse. Vian também defendeu centralizar o pagamento de subsídios e criar um registro centralizado das operações.

Depósitos

Integrantes do sistema financeiro estão preocupados com o financiamento da safra 2015/2016. Com a queda dos depósitos à vista, a disponibilidade de recursos está limitada. A fuga de aplicações da poupança para produtos mais rentáveis também tem sido um entrave. O receio é de que em 2016 se repita a situação observada no último trimestre (último do ano-safra 2014/2015), quando faltaram recursos para o pré-custeio em função de projeções frustradas de funding. Ademiro Vian, diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), alertou que os depósitos que formam os recursos obrigatórios tem apresentado forte queda.

"Ontem, olhando os números, fiquei um pouco mais preocupado. Projetávamos R$ 37 bilhões oriundos dos bancos privados (recursos obrigatórios), mas eles estavam em R$ 28 bilhões", observou. Os recursos a vista, que chegaram a representar 45,8% das fontes de recursos para financiar a produção em 2014, recuaram para 36,4%. "Aqui está acesa uma luz vermelha", observou o diretor da Febraban.

Wilson Vaz de Araújo, diretor de estudos econômicos doMinistério da Agricultura, demonstrou otimismo: "Como tem 30 dias que esses valores (do Plano Safra 2015/2016) estão vigorando, não dá para dizer que não vai acontecer. Só em dezembro poderemos ter uma ideia se vai faltar ou não", ponderou.

O executivo da Febraban desenhou um cenário complexo para o crédito subsidiado e relatou que não tem sido fácil a elaboração dos últimos planos-safra. Segundo ele, o anunciado neste ano foi diferente dos anteriores. "Ele é um plano mais caro que os outros porque trouxe alguns instrumentos como a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), que incrementou o total de crédito em R$ 30 bilhões", afirmou. "Esses recursos são a taxas de mercado, claro que não na ponta de cima, de taxas mais altas, mas não deixa de ser de mercado", disse.

Vian argumentou, ainda, que aumentar a exigibilidade - porcentual dos depósitos à vista nos bancos que têm de ser direcionados para o financiamento agropecuário - perdeu o sentido. Essa obrigatoriedade, segundo ele, tem sido sobre uma base de recursos decadente e que perde volume a cada mês.

"Os recursos obrigatórios deveriam ter crescido com as mudanças de exigibilidade, mas isso não ocorreu. O principal pilar do crédito rural deu sinais de esgotamento e essa foi uma das dificuldades para esse plano safra, uma questão que vai se tornar mais difícil na elaboração do próximo plano", afirmou.

Fonte: Estadão Conteúdo