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“Falta visão estratégica ao governo”, diz ex-ministro de Lula, Roberto Rodrigues

Roberto Rodrigues acredita que tem uma palavra escrita na testa: agronegócio. “Aonde quer que eu vá, as pessoas me olham e perguntam: e a soja, o milho, o algodão, a carne bovina, os porquinhos... Vão bem?”, diz. Pudera. Ele tem 73 anos idade, sendo 50 deles dedicados à militância nesse segmento. Hoje, o doutor Roberto, como é conhecido, coordena o Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo. Nesse meio século de atividades, já comandou diversos órgãos ligados ao campo. Entre eles, o Ministério da Agricultura, no governo Lula. Deixou Brasília, no entanto, com um travo na boca – não conseguiu executar nem a metade do que pretendia. Ele queria, por exemplo, fincar novas bases estratégicas para o setor. “Até agora, isso não foi feito”, afirma. “Por isso, perdemos grandes oportunidades.” Aliás, doutor Roberto, e a soja, o milho, o algodão, a carne bovina, os porquinhos... Vão bem?

Época NEGÓCIOS - O senhor saiu um tanto frustrado do governo por não ter feito tudo o que pretendia. Por que é tão difícil trabalhar em Brasília?
Roberto Rodrigues
 - Calculo que fiz um terço do que queria. Na prática, foi bastante, mas menos do que eu podia e pretendia. Tenho uma explicação muito clara para isso. Fiz parte de um governo, comandado pelo PT, com uma orientação socialista. O problema é que sempre fui um agricultor liberal. Assim, havia um estranho no ninho – eu. Nunca fui considerado uma pessoa da turma. Essa, na verdade, não era a visão do presidente Lula, mas era a do governo.

Quais eram os seus planos?
Montar as bases para o futuro do agronegócio, os pilares estratégicos do setor. O pessoal do governo chegou sem prática de governança. Até dominar a coisa toda, o primeiro ano do mandato já tinha acabado. Para mim, não. Eu cheguei com a receita pronta. Mesmo assim, tive dificuldades. É verdade que também passamos por muitos problemas no setor, o que dificultou o andamento das iniciativas.

Quais problemas?
Enfrentamos dois anos de seca, os custos explodiram, o endividamento avançou, tivemos problemas com a febre aftosa, a gripe aviária pairou sobre o país. Enfim, socorri muitas crises. Assim, fica difícil pensar no que vem lá na frente. Como se diz, o futuro não interessa aos mortos. Mas, passados dez anos desde que deixei o governo, ainda não conseguimos criar a tal estratégia para o agronegócio.

O que precisa ser feito?
Não é só o que precisa ser feito, mas por que temos de promover essas mudanças. Existe uma demanda razoavelmente inédita, endereçada ao Brasil em 2011, pela OCDE. Ela estima que, para que haja segurança alimentar no mundo – e só existirá paz no planeta se não houver fome –, é preciso que a produção de alimentos cresça 20% até 2020. À primeira vista, isso parece fácil, até banal, já que representaria um avanço de 2% ao ano para a nossa agricultura. Mas a conta não é tão simples. Muitos países não conseguiriam avançar nesse ritmo. Assim, para atingir os 20% globais, a OCDE pede que o Brasil avance 40%. Ou seja, o dobro da taxa mundial. E nós temos espaço físico para crescer, temos a melhor tecnologia voltada para a agricultura tropical do mundo e temos gente muito capaz.

Então, podemos alcançar essa meta?
Não. Por quê? Justamente pela ausência de uma estratégia para o agronegócio. E ela teria de contemplar pelo menos cinco pontos essenciais.

Quais?
O mais importante é a infraestrutura e a logística. Esse é um tema tão recorrente que nem vou me alongar nele. Só quero dizer que o atual governo apresentou um plano para a área. Ele é bom. Mas não aconteceu em 2015, não acontecerá em 2016. Em 2017? Esse ano será uma incógnita. O segundo item é uma política real de renda para o agricultor, cuja atividade exige crédito e seguro com características específicas. O terceiro é uma mudança na política comercial brasileira. Ela é muito tímida.

É a velha história: comercialmente, vivemos em uma ilha.
Sim. Nós colocamos todos os ovos na cesta da OMC [Organização Mundial de Comércio], e ela está travada há 14 anos. Os países ricos não querem reduzir o protecionismo e, para piorar, há um recrudescimento dessa postura em países emergentes, como a Índia e a China. Hoje, 40% do comércio agrícola acontece por meio de acordos bilaterais. Não temos nenhum relevante. Nenhum. Temos o Mercosul. Ele é importante, mas até agora só nos atrapalhou. Tanto é assim que o tratado comercial com a União Europeia está pendente há 13 anos. O fato é que estamos muito à frente dos nossos parceiros regionais. As ofertas do agronegócio brasileiro são muito maiores e melhores. Agora, ficamos de fora do TPP [sigla em inglês para a Parceria Transpacífico] e vamos perder mercado.

Quanto?
Ainda não sabemos, mas concorremos com países que fazem parte do TPP. Competimos com a Austrália em carne e açúcar. Com o Vietnã, em café. O Japão compra frango brasileiro e, agora, deve dar preferência ao Canadá e aos Estados Unidos.

Quais são os outros dois itens estratégicos do agronegócio?
O quarto tema é investimento em tecnologia. E esse não é problema só do governo federal. No estado de São Paulo, os institutos de pesquisa estão sucateados. O quinto item é uma mistura de coisas. Eu o chamo de “gargalo institucional”. No governo, quem cuida de rodovias e ferrovias? O Ministério dos Transportes. Dos portos? O Ministério dos Portos. Da política de renda? A Fazenda, o Planejamento, o BNDES, o Banco Central, o Banco do Brasil, a Caixa. E a política comercial? Está com a Apex, o Itamaraty. Enfim, embora o ministro da Agricultura tenha uma política desenhada, os instrumentos para realizá-la estão fora de suas mãos.

O diagnóstico dos problemas do agronegócio parece estar pronto, os entraves estão mapeadíssimos. O que, então, segura os avanços nessas áreas?
Para dar uma ideia da gravidade do problema, basta dizer que a última estratégia para a agricultura no Brasil foi elaborada no governo Geisel [1974-1979]. Ali, criou-se a Embrapa. Poxa vida, o mundo quer que o Brasil cresça 40% em dez anos. Existe oportunidade maior do que essa? Podemos ser o campeão mundial em segurança alimentar. A taça está na nossa frente e não a pegamos. O principal problema é falta de visão estratégica para o chefe do governo.

E o setor vai resistir até quando a essas barreiras?
Quase todas as semanas, recebo investidores estrangeiros, e alguns brasileiros, interessados em colocar dinheiro no agronegócio. São grandes fundos, bancos. O fato é que temos uma plataforma fantástica. Somos líderes mundiais na exportação de carne bovina, frango, café, suco de laranja, açúcar, tabaco, produtos do complexo soja. Mas, no fim dessas conversas, sempre restam duas perguntas: onde e quando investir? A primeira é fácil de responder. Existem oportunidades extraordinárias no campo. Elas vão da infraestrutura e a logística, passam pela tecnologia e seguem até a indústria de transformação. O problema é o quando.

E quando esse “quando” acontecerá?
É impossível prever. Antes, é preciso resolver a questão da governabilidade e a crise política, mas esses novos aportes podem chegar no último trimestre deste ano.

Quais as perspectivas para o agronegócio em 2016?
Em 2016, ele continuará atuando como a locomotiva do país. Terá grande participação no PIB, vai criar o maior número de empregos, será responsável pelo saldo da balança comercial, mas não será bom para todos os produtores.

Por quê?
Com a elevação do dólar, os custos de produção subiram este ano. Aumentaram os preços de insumos, defensivos, fertilizantes, equipamentos. Isso, além de energia, combustível, mão de obra. Nossa safra está, em média, 25% mais cara do que a passada. O horizonte é de margens menores. O câmbio vai ser determinante no processo. Plantamos com o dólar entre R$ 3,60 e R$ 3,70. Onde ele estará no momento da colheita? O problema é que, como diz o Delfim Netto, Deus inventou o câmbio para desmoralizar os economistas. É difícil prever o que acontecerá. Além do mais, o clima não ajudou. O El Niño provocou muitos estragos.

Quais?
Choveu pouco na fronteira agrícola [Mato Grosso, Maranhão, Piauí e Bahia] e muito no sul, comprometendo a produtividade  da safra nas duas regiões. Haverá endividamento e vamos ter uma exclusão relativamente grande no setor em 2016. Mas o horizonte é negativo para as commodities de grãos, como a soja. A cana-de-açúcar e a laranja tendem a ir bem. Por isso, digo que teremos problemas, mas serão localizados. Ao menos, por enquanto.

Fonte: Época NEGÓCIOS

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