EUA: inverno no hemisfério norte pode impactar demanda por fertilizantes
O frio ameaça a safra estadunidense mais uma vez. É bem verdade, entretanto, que o cenário de 2014 é diferente do que foi observado em 2013. Os dois mapas abaixo comparam as temperaturas no dia 13 de março de cada ano.
O inverno de 2014 aparenta bem menos rigor do que o de 2013, com temperaturas mais baixas concentradas na porção nordeste do país.
No ano passado, a primavera começou a se manifestar nos Estados Unidos por volta do fim da primeira quinzena de abril, com temperaturas ligeiramente mais altas nos estados mais ao sul. Porém, o solo continuava úmido demais para a aplicação de fertilizantes e chuvas constantes não ofereciam prognóstico positivo para o futuro próximo, enquanto a temperatura baixa comprometia a evaporação da água já acumulada no solo. Nas regiões mais ao norte, por outro lado, o inverno persistia: com a cobertura de neve que se observava à época, caso a temperatura subisse muito rápido, haveria enchentes; caso permanecesse frio por muito tempo, o produtor teria de plantar a frente do limite para o início da lavoura.
O que temos agora?
As porções mais ao norte do meio-oeste têm temperaturas entre 10 e 20 graus (F) abaixo do considerado normal, combinadas a nevascas recorde (ou próximas do recorde) no norte e leste da região. Embora as temperaturas sejam mais altas indo para o sul, há expectativa de que uma nova frente fria atinja o país nos próximos dias, trazendo mais neve e baixas temperaturas.
Até o momento, os impactos das baixas temperaturas ainda são difíceis de mensurar. Enquanto os mais otimistas sugerem que o plantio do milho deve atrasar em apenas duas semanas, os mais pessimistas trabalham com pelo menos quatro semanas de atraso. Ou seja: de uma forma ou de outra, o plantio não deve se iniciar na data considerada normal.
E quais seriam os impactos se este inverno se alongasse mais e atrasasse o plantio para além de quatro semanas?
Estudos concluídos pela Universidade Estadual do Mississipi indicam que a produtividade do milho começa a declinar se o plantio ultrapassar o primeiro de maio. No experimento conduzido pelos pesquisadores, a produtividade do milho decaiu 0,76% por dia durante o mês de maio. Entrando em julho, segundo mês de atraso, a taxa de decaimento da produtividade salta para 1,59% ao dia (os valores variam de acordo com a latitude e a irrigação das lavouras).
A solução pra evitar que o milho perca produtividade significativa seria reduzir ou até pular o período de aplicação de fertilizantes. Entende-se que este seja um dos principais – se não o principal – motivo para os agricultores dos Estados Unidos não terem dado as caras no mercado até o momento: não estão dispostos a imobilizar recursos em insumos que podem terminar juntando pó na prateleira. Desta forma, as negociações e as altas por elas impulsionadas estão quase que exclusivamente restritas à movimentação de atacado.
A redução na janela de aplicações significa redução de demanda, o que pode representar acúmulo de estoque ocioso. Isso pode ser uma realidade também para a ureia que, apesar de permitir aplicação de cobertura depois do plantio, ainda tem de competir com UAN e amônia. No caso do cloreto de potássio e dos fosfatados, este quadro é ainda mais provável numa situação de prolongamento do inverno e estreitamento da janela, uma vez que precisam ser aplicados antes do plantio.
Já se considera tarde demais para que os agentes estadunidenses importem novo produto. Desta forma, dificilmente o país reforçará o suporte no mercado internacional. Entretanto, com certeza não é tarde demais para que o produto acumulado sem uso nos Estados Unidos seja reorientado para fora, ampliando a disponibilidade mundial e colocando os insumos fertilizantes sob forte pressão.
Isso, claro, se o inverno de fato persistir, e se o plantio de milho de fato atrasar.
INTL FCSTONE
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