Skip directly to content

Dólar alto e juro maior às vésperas e cautela para a safra de verão

A colheita de safra recorde de grãos no primeiro semestre conseguiu manter o agronegócio – diferentemente da indústria e do comércio – a uma boa distância da crise que assola a economia brasileira em 2015. Mas a inflação alta, o juro salgado e a disparada do dólar às vésperas do próximo plantio tiram o otimismo do produtor, que promete segurar investimentos e adotar cautela na segunda metade do ano.

Só no último mês, a moeda americana subiu 10,16% e atingiu o maior valor em 12 anos. A escalada repentina preocupa, principalmente a quem deixou a compra de insumos para a última hora. A maior parte da matéria-prima, como agroquímicos, por exemplo, é importada, e os custos de produção deram um salto.


Os fertilizantes estão entre os itens que encareceram em um ano entre 20% e 32% dependendo da cultura, segundo dados da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).

– O produtor compra hoje insumo com dólar a R$ 3,40, mas com a forte oscilação cambial que vivemos não faz ideia a quanto vai colher a produção seis meses depois. Isso gera grande insegurança e inibe gastos futuros – explica o agrônomo Alencar Rugeri, da Emater.

O preço mais alto do diesel e da energia elétrica também pesa no orçamento e mina a confiança dos produtores, que vêem o custo operacional de suas lavouras aumentar em aspectos que têm pouca ou nenhuma margem para fazer economia.

Foi justamente o aumento das despesas e a incerteza dos ganhos que fez o produtor Antônio Augusto Wagner, de Passo Fundo, no norte do Estado, decidir segurar os investimentos nos próximos meses. O projeto de comprar máquinas novas, acalentado desde 2014, ficou para o ano que vem. Isso se a economia “dar sinais de melhora”, conta.

– Começou a complicar. Aquelas condições que pareciam muito favoráveis já não são mais. O juro está alto e não dá para saber quando a crise política vai melhorar. É hora de botar o pé no chão – conta.

A prudência em fazer novos gastos não é apenas do sojicultor do norte do Estado.
A queda brusca na venda de máquinas agrícolas em todo o país deixa empresários do setor em sinal de alerta. E nem mesmo o reforço no volume de crédito agrícola disponibilizado por meio do Plano safra no início de junho deste ano foi suficiente para afastar a desconfiança de agricultores e pecuaristas, sentimento que já acompanhava empresários e donos de indústria há pelo menos dois anos.

Apesar da ampliação de 20% nas cifras em relação ao programa de 2014 – o montante passou de R$ 156,1 bilhões para R$ 187,7 bilhões –, boa parte do aumento de recursos oferecidos é a juros de mercado, geralmente acima da taxa básica, hoje em 14,25%, nada atraente para custeio nem para investimento e comercialização das várias atividades no campo.


O volume de crédito com juros controlados teve avanço bem menor. Além disso, o acesso ficou mais restrito.

– O agronegócio brasileiro mostrou que responde muito bem à oferta sistemática de crédito. Nos últimos 15 anos, aumentamos a produtividade em 65%, e isso não é pouca coisa.

O volume subsidiado no país ainda não é suficiente, cobre cerca de 40% das necessidades, mas o produtor conseguiu outras maneiras de se financiar e criou alternativas, como a troca antecipada – afirma Pedro Arantes, economista da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), responsável por um amplo estudo sobre o crédito agrícola praticado no Brasil nas últimas décadas.

Além da piora no ambiente de negócios no país, a maior oferta de grãos no Brasil e no mundo e preços mais baixos ditam agora margens de rentabilidade apertadas.

– O clima para o segundo semestre é de preocupação. Temos de encontrar maneiras de aumentar a produção e a rentabilidade, diminuindo custos. Não podemos contar com a quebra na safra americana para ter um preço atrativo – alerta Antônio da Luz, economista-chefe do sistema Farsul.

Fonte: Zero Hora