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Soja louca 2: Embrapa segue com estudos sobre o distúrbio

Distúrbio que faz com que a soja não gere vagens, o que a impede de concluir seu ciclo e quebra sua produtividade em até 60%, batizado de soja louca 2, pode ter sido esclarecido por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). O nematoide Aphelenchoides sp. foi apontado em estudos como agente causador do problema e essa descoberta foi apresentada na semana passada durante o 7º Congresso Brasileiro de Soja, em Florianópolis (SC).

As perdas nas áreas afetadas pela soja louca 2 têm sido caracterizadas pela redução da produtividade em função do elevado índice de abortamento de flores e vagens e do alto percentual de desconto no valor da soja, devido a presença de impurezas, ou seja, pedaços de tecido verde e grãos podres, que propiciam apodrecimento da massa de grãos.

A incidência de soja louca 2 aumentou significativamente a partir da safra 2005/2006, principalmente nas regiões produtoras mais quentes do Brasil – Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Os maiores índices de ocorrência da doença foram em anos com maior frequência de chuvas, na entressafra e início de safra.

Desde 2011, a Embrapa Soja implementou um projeto de pesquisa multidisciplinar em parceria com várias outras instituições, com o objetivo de investigar as possíveis causas da doença e dar suporte ao monitoramento da ocorrência do problema no Brasil. Essa pesquisa, identificou a presença sistemática do nematoide Aphelenchoides sp. nas amostras analisadas de tecidos de plantas com sintomas de soja louca 2, com maior concentração em nós reprodutivos e folhas sintomáticas.

Segundo o pesquisador da Embrapa Soja Maurício Meyer os sintomas da doença foram reproduzidos em plantas sadias, inoculadas com Aphelenchoides sp., indicando que a presença do nematoide tem implicações na manifestação do problema. De acordo com ele, após exaustivos estudos da doença, foram descartadas as hipóteses de possíveis causas por ácaros ou vírus. “Ainda não foi confirmada nenhuma das causas abióticas estudadas, tais como desequilíbrio nutricional, efeito de herbicidas e efeito de ambiente”, ressalta. O estudo observou ainda que sistemas de cultivo com rigoroso controle de plantas invasoras, em pré e pós semeaduras, têm revelado maiores reduções da incidência de soja louca 2.

De acordo com a pesquisadora da Epamig Luciany Favoreto, amostras da parte aérea das plantas com sintomas de Soja louca 2 foram analisadas no laboratório de Nematologia da empresa, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, no período de março a este mês. Segundo a pesquisadora, esses resultados foram muito importantes para a continuidade dos estudos. “Com uma população pura do nematoide foi possível realizar o estudo conhecido como ‘Postulado de Koch’, que preconiza que o patógeno vindo de uma cultura pura deve ser inoculado em plantas sadias da mesma espécie ou variedade na qual apareceu, e deve provocar a mesma doença nas plantas inoculadas.

Luciany explica que o patógeno puro foi enviado para o Maurício Meyer, que inoculou em plantas de soja sadias e observou que após 12 dias, as plantas começaram apresentar os mesmos sintomas das plantas doentes. “Estas plantas doentes foram-nos enviadas, e em análise em nosso laboratório, observou-se uma expressiva quantidade do nematoide. Dessa forma, provou-se que o Aphelenchoides sp. é o provável agente causador da soja louca 2”, diz a pesquisadora. Ela acrescenta que as populações puras, que estão sendo multiplicadas no laboratório de Nematologia da Epamig, serão úteis para estudos posteriores sobre a patogenicidade e a taxonomia.

Segundo os pesquisadores, o próximo passo será implementação de novos estudos voltados para investigação dos aspectos da biologia do nematoide tais como as formas de sobrevivência, plantas hospedeiras alternativas, colonização e infecção na soja, para definir claramente as medidas de controle a serem preconizadas.

Vazio fiscalizado

Com foco na prevenção e controle da ferrugem asiática da soja, doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, o vazio sanitário dessa cultura será realizado em Minas Gerais, de 1º de julho a 30 de setembro, conforme Resolução 1.393/ 2015 da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e a Portaria 1.503/2015 do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Nesse período, o plantio do grão será proibido em todo o estado, exceto para as situações previstas na legislação, desde que autorizado. A fiscalização ficará a cargo do IMA. Estão programadas cerca de 600 fiscalizações em propriedades rurais. A produção de soja em Minas alcançou 3,33 milhões de toneladas em 2015.

No período do vazio sanitário, outra medida de proteção à produção de soja consiste na eliminação das plantas voluntárias ou remanescentes das últimas safras, com a utilização de produtos químicos ou de outras formas de erradicação, de acordo com o gerente de Defesa Sanitária Vegetal do IMA, Nataniel Nogueira. Ele ressalta que a responsabilidade fica por conta de cada produtor. “Se todos fizerem a sua parte, teremos menos gastos com agrotóxicos para eliminar a plantação antiga e mais chances de fazer o total aproveitamento da nova safra.”

Nogueira alerta que a disseminação da ferrugem, que destrói a cultura da soja, é feita pelo vento e que apenas uma planta infectada é capaz de reproduzir milhões de uredosporos (unidades de reprodução), que se alastram para vários lugares em pouco tempo.

Na safra 2013/2014 foram constatados cinco casos da doença em Minas, e na safra 2014/2015 foram três, o que mostra que está havendo conscientização e compromisso por parte dos produtores e a eficiência do vazio sanitário. Só áreas de pesquisa científica e de produção de sementes genéticas, devidamente autorizadas, controladas e monitoradas pelo IMA, ficam isentas da medida.

Fonte: Estado de Minas