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Davos, Cuba

Durante três anos, o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, foi desprezado pela presidente Dilma Rousseff. Para seus assessores, o mais importante convescote mundial, que põe para conversar os principais banqueiros, políticos, empresários e executivos do planeta, era muito cartaz para pouca ação. O orgulho não resistiu à necessidade. Na esperança de conter a saída de investidores do Brasil e, mais ainda, atrair outros dispostos a arriscar no país, Dilma discursou na sexta-feira 24 em Davos. "Quero enfatizar que nós não transigimos com a inflação", disse ela a um grupo de executivos. A presidente também citou o programa de infraestrutura. "O sentido (do programa) é enfrentar os gargalos gerados por décadas de sub investimentos agravados pelo forte crescimento da demanda nos últimos anos", disse. O poder de convencimento da presidente, contudo, foi minado na véspera, quando consultorias e bancos mundiais relataram o contrário, apontando o dedo para gastos públicos sem controle, desequilíbrio nas contas fiscais, inflação em alta e infraestrutura deficiente. "A intervenção governamental continuará forte", informou o Deutsche Bank.

Em uma rápida troca de roupa, a presidente embarcaria de Davos direto para Cuba. Longe dos capitalistas, banqueiros e empresários, ela participa nesta semana, em Havana, de um encontro da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Mais à vontade, Dilma vai celebrar a ditadura dos irmãos Castro, agradecer pelos médicos enviados ao Brasil a preço de ouro e, se sobrar tempo, inaugurar o moderno Porto de Mariel.

A obra é de fazer inveja a qualquer exportador brasileiro e de deixar os mais ricos visitantes de Davos de boca aberta. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu 682 milhões de dólares na reforma e na ampliação do porto, realizadas pela Odebrecht. Recapitulando: poucos dias depois de falar de sub investimentos em infraestrutura no seu próprio país, a presidente pretendia prestigiar um grande investimento em infraestrutura em outro país feito em grande parte com dinheiro brasileiro. Alguns dos terminais já estão prontos e, ao redor, será construída uma Zona Especial de Desenvolvimento com 465 quilômetros quadrados. A área, equivalente à de Curitiba, já recebeu 100 quilômetros de rede de água, 12 quilômetros de ferrovia e 70 quilômetros de estradas pavimentadas e em pista dupla. As indústrias estrangeiras que decidirem se instalar ali poderão proporcionar uma renda miserável aos trabalhadores, enquanto a ditadura confiscará a maior parte dos salários, um modelo semelhante ao do pro- o grama Mais Médicos. Em meados de 2012, o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, decretou que o contrato para o financiamento do Porto de Mariel será confidencial até 2027. Ao tomarem conhecimento do fato em uma reportagem de VEJA ("Isso é que é camaradagem", 8 de janeiro), senadores e deputados prometeram levar ao Congresso a discussão sobre a caixa-preta do BNDES. Já era hora.

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