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Corte de R$ 351,3 milhões deixa produtores à mercê do clima na safra 2015/16

Foi divulgada no Diário Oficial da União de hoje, 13 de agosto, Resolução do Comitê Gestor do Programa de Subvenção do Prêmio do Seguro Rural (PSR), definindo regras e direcionamento dos recursos desse programa. E as notícias não são boas para os agricultores do país.

Duas semanas após a comemoração do Dia do Agricultor (28/07), o “presente de grego” do governo federal chegou atrasado e com corte de recursos no orçamento do seguro rural, instrumento que reduz os prejuízos dos agricultores em caso de perdas de safra por adversidades climáticas. O governo federal decidiu deixar milhares de produtores à mercê de São Pedro, correndo o risco de terem que renegociar as dívidas em caso de adversidades climáticas na nova safra 2015/16.

A Resolução 36 deste Comitê alterou os valores alocados para o apoio ao seguro rural nos diferentes tipos de atividade e substituiu a resolução anterior (35). Abaixo uma comparação da medida e os cortes no orçamento do programa de seguro.

 Análise dos valores totais do orçamento por tipo de atividade:

Cultura Resolução 35 (anterior) NOVA Resolução 36 Situação
Trigo, grãos de inverno e milho 2ª safra R$ 152.000.000,00 R$ 152.000.000,00 Já realizado
Soja R$ 100.000.000,00 R$ 80.000.000,00 Retirado

R$ 20.000.000,00

Outras atividades R$ 46.080.000,00 R$ 36.700.000,00 Retirado

R$ 9.380.000,00

Uva R$ 25.000.000,00 R$ 20.000.000,00 Retirado

R$ 5.000.000,00

Maçã R$ 35.000.000,00 R$ 28.000.000,00 Retirado

R$ 7.000.000,00

Milho 2ª safra R$ 10.000.000,00 -- Retirado

R$ 10.000.000,00

Total R$ 368.080.000,00 R$ 316.700.000,00 Total Retirado

R$ 51.380.000

Fonte: SPA/MAPA. Comparativo das resoluções 35 e 36 do Comitê Gestor do Programa de Subvenção do Prêmio do Seguro Rural

Corte no orçamento da Agricultura afeta todas as atividades do programa de seguro rural

Para o ano de 2015, o programa tinha volume de recurso aprovado na Lei de Orçamento Anual (LOA) de R$ 668 milhões, menor do que o disponibilizado em 2014, de R$ 700 milhões.

No entanto, o governo federal acumulou dívida de R$ 690 milhões das apólices de seguro do ano passado com as companhias seguradoras, dos quais R$ 300 milhões foram subtraídos do orçamento de 2015 para colocar em dia esses atrasados, sobrando no orçamento deste ano apenas R$ 368 milhões, valor que agora sofreu novo revés.

O orçamento do programa sofreu corte de mais R$ 51,38 milhões. A nova Resolução 36 informa orçamento de R$ 316,7 milhões substituindo as decisões da Resolução 35, de 30/06/2015, que estabelecia recursos na ordem de R$ 368,08 milhões. Ou seja, as regras para o seguro rural de junho de 2015 sobreviveram menos de 45 dias aos cortes de orçamento do MAPA. E isso ocorre exatamente quando os produtores já estão realizando o crédito rural nos bancos, sem a mínima certeza se terão acesso ao apoio no seguro, visto que a demanda será muito maior do que a oferta do programa do governo federal.

REDUÇÃO DO ORÇAMENTO PARA SEGURO RURAL

ORÇAMENTO DO PROGRAMA 2015 SUBTRAÇÃO PARA PAGAR ATRASOS DE 2014 (A) CORTE NO ORÇAMENTO DO MAPA (B) REDUÇÃO TOTAL DO ORÇAMENTO DO SEGURO (A+B) ORÇAMENTO FINAL PARA 2015
R$ 668.080.000,00 R$300.000.000,00 R$51.380.000,00 R$351.380.000,00 R$ 316.700.000,00

A redução de recursos ocorre na contramão da necessidade de crescimento do seguro rural no país, visto que a área coberta com seguro representou 18% da área agrícola do Brasil, sendo necessário massificar com maior rapidez esse instrumento de mitigação de riscos. A demanda por seguro será maior, pois os valores a serem pagos pelo prêmio (taxa de aquisição do seguro) estão maiores com o aumento generalizado de pelo menos 15% dos custos de produção.

Dessa forma, os R$ 316,7 milhões representam apenas 40% do total necessário para fazer frente à mesma demanda por seguro do ano passado. O recurso disponibilizado para o seguro rural em 2015 pelo governo federal será insuficiente, causando menos negócios para seguradoras, corretores, peritos e toda a indústria do seguro rural, podendo gerar demissões pela redução do volume de apólices comercializadas.

SOJA

O caso da soja é o que mais chama a atenção. No ano de 2014 foram liberados R$ 440 milhões no segundo semestre para o PSR, dos quais em torno de R$ 300 milhões para soja e R$ 140 milhões para as demais atividades. Ocorre que o orçamento para o seguro da soja em 2015 é de apenas R$ 80 milhões!!

Para atender o mesmo número de produtores e dar cobertura para a mesma área de soja com seguro rural de 2014, será necessário crédito suplementar no orçamento de 2015 da ordem de R$ 320 milhões. Caso essa medida não seja adotada, apenas um a  cada quatro produtores que realizaram seguro agrícola de soja em 2014 terão acesso ao seguro agrícola.

IMPACTOS

A simulação dos impactos do corte de R$ 351,3 milhões no orçamento do programa considerou que os custos de produção nesta safra estão maiores em pelo menos 15% e que as novas regras estabelecidas para seguro rural, de coberturas com faixas de 60% para cima, aumentam a necessidade de recursos para a subvenção ao prêmio. Além disso, no segundo semestre de 2014 foram alocados recursos na ordem de R$440 milhões para o programa e em 2015 apenas R$ 164,7 milhões. Todos esses fatores somados reduzem o alcance do programa em todas as suas variáveis. Na tabela abaixo pode ser averiguada a estimativa dos impactos em relação ao ano de 2014, com destaque para:

- Em torno de 70 mil operações de seguro deixarão de ser realizados.
- Redução de 7,3 milhões de hectares com seguro agrícola. A área com cobertura de seguro agrícola no país vai baixar de 12 milhões de hectares para apenas 5 milhões de ha.
- Em torno de R$ 12 bilhões em Importância Segurada (IS) não será amparada. Esse é um valor potencial que ficará sem mecanismos de mitigação de riscos e que pode virar prejuízo dos produtores ou renegociação de dívidas destes junto aos bancos, cooperativas e fornecedores de insumos em caso de adversidades climáticas.
- R$ 700 milhões em arrecadação de prêmios de seguro não serão negociados, podendo gerar perda de renda e desemprego na indústria de seguros.

Fonte: Faep