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Compactação prejudica muito o solo, mas existem alternativas

A pesquisa da Embrapa mostra grande preocupação com o grau de compactação de uma parcela significativa dos solos agrícolas em Mato Grosso do Sul. Por isso, foi realizado um trabalho detalhado sobre esse assunto pelos pesquisadores Júlio Cesar Salton e Michely Tomazi, ambos engenheiros agrônomos, doutores em Ciência do Solo e pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste. A pesquisa está sendo divulgada no Estado e, na sexta feira, Júlio Salton a apresentou aos produtores de algodão da região nordeste do Estado, durante evento da Associação dos Produtores de Algodão de MS.

“A compactação do solo o torna pouco poroso, e isso dificulta o desenvolvimento das raízes das plantas. Também provoca o acúmulo de adubo e outros insumos como calcário, por exemplo, na superfície, dificultando a penetração da água e das raízes” explicou Salton. Ele destaca que nos períodos de seca, com a compactação, as plantas não conseguem expandir as raízes para as áreas mais profundas, prejudicando o desenvolvimento e seu crescimento.

A ALTERNATIVA

O pesquisador frisa que a principal alternativa para esse problema é introduzir outras plantas que tenham raízes profundas na entressafra, além de fazer o preparo da terra usando o preparo biológico. “O uso de uma braquiária depois da soja é uma boa alternativa, ou também a crotalária. São duas espécies de plantas que aprofundam bem as raízes”, explicou.

O ESTUDO

O uso de plantas específicas para melhorar alguns atributos do solo, por meio da ação de suas raízes, pode ser tão importante como para produção de cobertura do solo. É de conhecimento geral que as plantas de cobertura (aquelas cultivadas geralmente na entressafra, especialmente para produção de massa vegetal destinada à cobertura da superfície do solo) são fundamentais para a proteção do solo, gerando efeitos diversos, como reduções da erosão do solo, da temperatura e da amplitude térmica do solo, das perdas de água por evaporação e manutenção de umidade do solo, maior reciclagem e disponibilização de nutrientes para as plantas cultivadas em sequência, acúmulo de material orgânico (carbono) ao solo, além de expressivo impacto na redução da incidência de plantas daninhas.

No caso de plantas “produtoras de raízes”, o objetivo é incluir no sistema de produção espécies que tenham como característica a produção de vasto sistema radicular, com crescimento rápido e contínuo.

Tal sistema radicular pode proporcionar significativas melhorias ao solo, especialmente nos aspectos relacionados à estrutura e ao acúmulo de matéria orgânica.

Portanto, é desejável identificar espécies que conciliem a produção de abundante palhada para a cobertura do solo com o crescimento do sistema radicular vigoroso, que possa resultar em melhorias estruturais do solo.

Como exemplo, são indicadas as braquiárias, que possuem sistema radicular fasciculado e de rápido estabelecimento. Estas espécies são plenamente adaptadas às condições edafoclimáticas, que ocorrem em regiões de clima tropical, como Mato Grosso do Sul, e, portanto, são amplamente cultivadas para a formação de pastagens. No caso da utilização em áreas de cultivo de soja, é plenamente possível o cultivo da braquiária na entressafra de forma solteira ou em consórcio com o milho.

Um dos principais sistemas de manejo no qual é possível ter plantas tanto para cobertura do solo como para “produção de raízes” é a rotação entre a pastagem e a cultura de soja, ou Sistema Integrado Lavoura-Pastagem. O sistema radicular das braquiárias é bastante eficiente em promover uma estruturação adequada do solo, com formação de agregados estáveis, macroporosidade e canais, proporcionando ambiente favorável para o crescimento do sistema radicular da cultura subsequente, como a soja. Para isso, ao ser realizada a semeadura da soja sobre a pastagem, é fundamental que esta encontre-se em boas condições de produção de forragem e, consequentemente, disponha de um sistema radicular volumoso, a chamada “cabeleira de raízes”. Este abundante sistema radicular, especialmente das braquiárias, é que poderá resultar em importantes benefícios ao sistema de produção como um todo, tais como:

Crescimento do sistema radicular – Mesmo que atuando por apenas alguns meses, o sistema radicular de forrageiras como as braquiárias podem contribuir de forma marcante para o crescimento das raízes das plantas subsequentes, como a soja, quando introduzidas sem o revolvimento do solo, isto é, em plantio direto. Após a dessecação e consequente morte da planta forrageira, as raízes iniciam o processo de decomposição, deixando inúmeros canais e galerias no interior do solo, constituindo, desta forma, um ambiente extremamente favorável ao crescimento das raízes.

Essas melhorias no solo são consideradas um diferencial para a lavoura cultivada após a presença da braquiária, pois as raízes das plantas conseguem se desenvolver em maior volume de solo e, consequentemente, explorar melhor o perfil do solo. Esse efeito é percebido onde o cumprimento das raízes de soja no perfil do solo, cultivada após milho safrinha em consórcio com braquiária, foi maior quando comparado ao solo sem a presença de braquiária. Neste local, o solo possui textura argilosa e, em apenas 3 anos de cultivo de soja após a presença de braquiária, as raízes já alcançaram os 70 cm de profundidade, enquanto na área sem braquiária as raízes da soja chegaram apenas até 40 cm.

É evidente que plantas de soja que disponham de maior comprimento de raízes poderão explorar maior volume de solo, tendo à sua disposição mais nutrientes e maior oferta de água, fator fundamental para enfrentar os veranicos.

Quando a soja é cultivada após pastagem, que foi utilizada para pastejo por animais, os efeitos benéficos tendem a ser mais pronunciados, pois, geralmente, a pastagem se desenvolve por um maior período de tempo, emitindo maior volume de raízes. Quando a pastagem é submetida a um sistema de manejo adequado, com a emissão de novos perfilhos (após o pastejo), novas raízes serão emitidas, intensificando as melhorias na estruturação do solo. No caso de um sistema de Integração Lavoura-Pecuária, em que a soja e a pastagem compõem um sistema de rotação com ciclos de 2 anos e sempre mantidos em plantio direto, as plantas de soja apresentam um sistema radicular muito mais desenvolvido e profundo, o que, entre outras vantagens, resulta em maior capacidade de suportar a ocorrência de veranicos.

Agregação e estrutura do solo – A estrutura adequada do solo é aquela que permite bom fluxo de água, aeração do seu interior, resistência à erosão e ao tráfego de maquinários, desenvolvimento de organismos vivos (microrganismos e fauna do solo) e o apropriado desenvolvimento e funcionamento das raízes das plantas. A qualidade estrutural do solo é decorrente de suas características e também da forma de uso; assim, o plantio direto é vantajoso em relação ao sistema convencional por preservar a integridade física do solo e acumular matéria orgânica.

O amplo desenvolvimento do sistema radicular das gramíneas é o principal agente agregador de partículas nos solos tropicais, tanto pela liberação de exsudados como entrelaçando pequenos torrões, formando estruturas maiores. O cultivo de plantas com abundante sistema radicular contribui para a formação e estabilidade de agregados maiores que 2 mm, denominados de macroagregados.

 

Fonte: Correio do Estado