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Comércio exterior como saída para a crise local

O mercado externo vem se configurando como alternativa para alguns setores que estão encontrando dificuldade em colocar seus produtos no mercado interno. "Mais do que driblar a crise, ampliar a participação no mercado externo é uma maneira de a empresa, que é líder no Brasil, com quase 80% de participação de mercado, manter sua expansão. Afinal, com ou sem crise, é muito difícil aumentar essa participação por aqui", conta Vinicius Gibrail, gerente de Exportações e Desenvolvimento de Mercados Internacionais da Steck. Líder na produção de material elétrico para usos residencial, comercial e industrial, a Steck ampliou a participação das exportações de 2,5% para 8% do total de vendas em três anos, atendendo a 15 países da América Latina.

Outro esforço vem do setor automotivo. Na semana passada, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, anunciou que a montadora de Máquinas Agrícolas CNH Industrial, do grupo Fiat Chrysler Automobi-les (FCA), fechou contrato de venda de tratores e colhedoras de Cana-de-açúcar para Cuba.

Embora traga resultados individualmente, os esforços dessas empresas não são suficientes para mudar a balança comercial. Na primeira semana de maio, por exemplo, apesar do superávit de US$ 976 milhões, o melhor do ano, houve queda de 10,8% nas exportações brasileiras pela média diária quando comparado a igual período de 2014. Apesar disso, a consultora Marília Castañon , associada da GBI Consultoria Internacional, diz que diversificar mercados é uma boa saída para diminuir a dependência de alguns blocos.

"Criar relações de comércio não é uma tarefa imediata, porque há interesses que são conflitantes dos dois lados. Essa é uma relação que se constrói ao longo do tempo, daí a importância de as empresas cultivarem esses negócios. Por isso, também não basta a valorização cambial para se decidir abrir mercado", afirma Marília. Em alguns casos, alerta,negociar individualmente é mais vantajoso do que depender de acordos de livre comércio, que podem demorar anos até que se concretizem.

No caso do setor automotivo, apesar do acordo do Mercosul privilegiar os parceiros do bloco, as empresas estão ampliando suas fronteiras. O resultado foi um crescimento de 133% nas vendas de veículos para o México de janeiro a abril, e de 38% e 8%, respectivamente, para Peru e Colômbia.

"O país precisa avançar na exportação de bens industrializados, buscando mercados, independentemente de haver acordos", diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Mauro Laviola, embora reconheça que o custode produção nacional impede uma atuação mais agressiva das empresas.

Como exemplo cita que, por conta do ajuste fiscal, o Ministério da Fazenda reduziu de 3% para 1% a alíquota do Reintegra - programa que "devolve" uma parte do valor exportado em produtos manufaturados por meio de créditos do PIS e Cofins -, além de cobrar esses dois impostos nas operações financeiras de empresas exportadoras. "A fome fiscal do Brasil é contra os esforços de galgar novos mercados", diz Laviola.

Ele diz que nem mesmo a valorização do dólar é de toda benéfica,embora devolva certa competitividade. "Esse movimento não solidifica a participação no comércio internacional, porque a oscilação cambial é um fator conjuntural,enquanto o custo Brasil é estrutural. Nossas vendas dependem do crescimento de outros mercados e isso não dá solidez alguma".

Pesquisadora de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Lia Valls afirma que falta reforçar a atuação em acordos que o país já possui. "Na América do Sul o Brasil tem acordo de livre comércio praticamente com todos os países. Só que, depois que fecha os acordos, o gover-notem pouca ascendência nas empresas para criar estratégias de exportação", diz a pesquisadora.

Por isso, Lia acha primordial que se crie uma agenda de facilitação da estrutura do comércio, que melhore e diminua os procedimentos burocráticos: "Mais do que novos acordos ou planos, o governo precisa de esforços para que as empresas consigam aproveitar os acordos que o país já possui".

Fonte: Brasil Econômico