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Atraso na compra de insumos pode causar gargalo logístico

"Não se pode comprar os enfeites da árvore na véspera do Natal", diz o diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, para exemplificar o significado do adiamento das compras de insumos para a safra de grãos 2015/2016.

Em entrevista exclusiva ao DCI, ele acredita que o aumento de juros do Plano Safra e a restrição de crédito dos bancos causarão uma colisão entre o período de entrega de fertilizantes e defensivos, e, em consequência, problemas logísticos para o segundo semestre.

Sazonalmente, nessa época, a decisão de plantio dos produtores para a próxima safra já foi tomada e os primeiros insumos, como os fertilizantes, estão adquiridos e começaram a ser entregue.

Daher conta que durante este ano o agricultor ficou à espera de preços melhores nas commodities para definir a área plantada, fato que, aliado à incerteza quanto à disponibilidade de crédito para custeio, implicou na perda da janela ideal para as negociações.

"O mercado nesse momento está abaixo do que imaginávamos, de 12% a 15% atrasado ou menor. Vai haver um problema de logística e aqueles que antecipavam vão deixar para depois. A partir de setembro, quando são feitas as compras dos defensivos, começarão as filas em Paranaguá e Santos. As fábricas não são elásticas e a logística não comporta", enfatiza.

Entre as empresas

Na mesma linha, durante evento realizado ontem (30), em Campinas, o vice-presidente sênior da unidade de proteção de cultivos da Basf para a América Latina, Eduardo Leduc, também considerou a possibilidade de um gargalo nos transportes para os próximos seis meses, mas o atribuiu a tendência de aumento no plantio de soja na próxima safra. Estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulga- das em junho indicam que a o- leaginosa brasileira pode crescer cerca de 3% no período.

"Deixar para a última hora pode piorar a situação do agricultor", avalia Leduc. Neste sentido, o diretor da Andef acrescenta que quem tiver crédito agora e uma definição mais clara sobre o andamento da lavoura sairá na frente, pois um mercado com baixa demanda sempre apresenta ofertas e preços melhores. Como foi observada uma diminuição na demanda por fertilizantes, mesmo com a postergação, a tendência é que os defensivos sigam a mesma linha e não mantenham os melhores resultados neste ano.

Para diminuir os entraves no transporte de insumos, a Basf mantém centros de distribuição que atendem regiões como Centro-Oeste e Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia). Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Luis Eduardo Magalhães (BA) são algumas das sedes, mas mesmo assim, o vice-presidente da unidade de proteção de cultivos para o Brasil, Francisco Verza, admite que a medida não é suficiente para amenizar o prejuízo que este atraso nas compras promete.

Conforme publicado pelo DCI, um estudo recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que o País precisaria de pelo menos R$ 195,2 bilhões para melhorar a logística do setor agrícola. Entretanto, o último plano de investimentos apresentado pelo governo federal (PIL) coincide com apenas R$ 43,4 bilhões das necessidades apontadas pela entidade.

Alternativa de venda

Desde que as taxas de juros para financiamento de custeio e investimento foram fixadas pelo Plano Agrícola e Pecuário (PAP) do Ministério da Agricultura, na média de 8,75%, um aumento de pelo menos dois pontos percentuais, a possível restrição de crédito dos bancos se tornou quase um consenso entre produtores rurais e fornecedores agropecuários.

"Temos uma Kátia Abreu [ministra da Agricultura] muito ligada à Presidência da República. Tivemos a notícia boa de que o crédito é superior ao volume do ano passado, o juro está maior mas ainda é subsidiado. Esse dinheiro vai ficar mais caro, o problema é saber qual é o critério de liberação de financiamento. Vamos ter crédito seletivo", afirma Daher. Para o executivo, muitas compras tendem a ser feitas com recurso próprio dos agricultores. A estimativa é que o mercado utilize entre 30% e 40% dos bancos, o restante será arcado pelo agricultor ou negociado por meio dos sistemas de troca com as tradings, o chamado barter.

De fato, diante um movimento de diminuição na demanda e necessidade de aquisição de insumos, o barter tem sido a melhor saída tanto para as empresas quanto para os produtores. Diversos segmentos, como o de máquinas agrícolas, devem fechar 2015 no vermelho. Para adubos, sementes e defensivos ainda há uma expectativa de encerrar o ano no azul e grande o sistema de trocas deve ser o grande motor deste mercado.
A multinacional de defensivos agrícolas Adama, tinha uma perspectiva de crescimento ao redor de 20% no Brasil em 2015. O presidente para a unidade no País, Rodrigo Gutierrez, lembra que o primeiro semestre foi marcado por perdas, mas que o nível de negociações em andamento indica que ainda será possível avançar 10% em relação ao ano passado. Sem revelar números concretos, o executivo espera que 40% das operações comerciais sejam feitas por meio de barter.

"Neste ano o produtor vai ter que ir para o barter, acreditamos que essa é a saída para comprar os insumos. Não vamos recuperar os problemas do primeiro semestre, mas podemos melhorar os resultados do segundo", projeta Gutierrez. Ele explica que a companhia trabalha com dois ou três modelos distintos de comercialização por meio de troca com a trading, sendo um deles a possibilidade de participação de uma eventual alta no preço da commodity, mesmo que o travamento do preço (hedge) tenha sido feito. O mercado de opções dá essa possibilidade ao agricultor com ferramentas financeiras que funcionam como uma espécie de seguro.

Para o executivo, ainda é necessário um esforço para fazer o produtor entender as opções de alta, pois se trata de um artifício que muitos não estão acostumados a adotar. "Estamos focados no milho, no trigo, que tem tido muita adoção de tecnologia e na cana-de-açúcar, que pode ser beneficiado pelas chuvas do El Niño", completa.

Consolidação

Na Basf, o barter já é uma modalidade corriqueira de comercialização. O vice-presidente para o Brasil disse ao DCI que ainda houve uma intensificação dos negócios nos últimos cinco anos, a ponto de manter uma estrutura dedicada a oferecer as melhores estratégias de negócios aos produtores.

Questionado sobre a questão da falta de crédito, Francisco Verza ressaltou que a empresa deve dar continuidade a parcerias com cooperativas, focar na oferta de financiamento e na troca por produto junto às tradings.

Fonte: DCI