Atrás de preços maiores, agricultores americanos trocam o milho pela soja
Depois de ver a saca de milho perder 40% do valor nos Estados Unidos no ano passado, Ron Moore, agricultor do Estado de Illinois, tem uma nova estratégia para 2014: plantar mais soja.
Outros produtores do meio oeste americano, o cinturão verde do país, estão adotando o mesmo plano, o que poderia dar origem a um plantio recorde de soja nos EUA este ano e forçar uma queda nos preços. No mercado futuro de soja, que movimenta anualmente US$ 42 bilhões, os preços estão cerca de 6% mais baixos em relação ao ano passado, mas a queda é bem menor que as vistas nas cotações do milho e do trigo.
O Departamento de Agricultura americano (USDA) prevê que, antes da colheita do segundo semestre, os estoques de soja nos EUA estarão 35% abaixo da média dos últimos 50 anos, em parte devido ao aumento da demanda na China, país que é o maior consumidor mundial do produto. A soja é usada numa variedade de coisas, de ração animal a óleos de cozinha e aditivos alimentares.
Moore diz que pretende plantar entre 15% e 20% a mais de soja no primeiro semestre deste ano, comparado ao ano passado, em vez de milho, nos mais de 800 hectares que cultiva. "Há incentivo econômico para voltar para a soja", diz o agricultor de 57 anos.
A firma de pesquisas Informa Economics prevê que os agricultores americanos devem ampliar a área de plantio de soja em 6% este ano, para um recorde de 32,9 milhões de hectares. Ela calcula que a área plantada com milho deve recuar 2%, depois que uma safra recorde em 2013 reduziu os preços. O USDA deve divulgar esta semana sua previsão inicial de plantio, durante sua conferência anual de perspectivas para o setor, em Washington.
"Todos os caminhos apontam para mais hectares de soja", diz Malinda Goldsmith, uma das sócias da Four Seasons Commodities Corp., firma de investimentos que administra US$ 104 milhões em ativos agrícolas. A Four Seasons está apostando em preços mais baixos para os futuros de soja atrelados a datas de entrega após a colheita do segundo semestre.
Um maior plantio de soja poderia gerar uma maior produção nos EUA, ao mesmo tempo que a produção no Brasil e na Argentina, os dois maiores produtores de soja depois dos EUA, também deve aumentar. Isso poderia resultar numa expansão significativa da oferta mundial da leguminosa.
Na semana passada, o USDA previu que o Brasil, beneficiado por uma meteorologia favorável, deve colher o volume recorde de 90 milhões de toneladas de soja este ano e tomar pela primeira vez o lugar dos EUA como o maior produtor de soja do mundo. A Argentina deve aumentar a produção para 54 milhões de toneladas, sua segunda maior colheita da história.
A provável combinação de safras volumosas na América do Norte e do Sul este ano pode empurrar o preço da soja nos EUA para US$ 9,50 por bushel no segundo semestre, o nível mais baixo em quatro anos, segundo Terry Reilly, analista da corretora Futures International LLC, em Chicago.
"Estamos vendo estoques mundiais enormes", diz ele.
Na sexta-feira passada, os contratos futuros de soja caíram 0,5%, para US$ 13,3750 por bushel, na bolsa de Chicago.
Muitos agricultores vinham preferindo o milho nos últimos anos por causa dos preços altos, embora geralmente alternem o cultivo de grãos em pelo menos parte de suas terras. O plantio do milho ano após ano pode aumentar os danos causados por pragas e doenças, reduzindo a produtividade das terras, diz Virgil Schmitt, agrônomo da filial de Muscatine da Universidade de Iowa.
Financeiramente, faz mais sentido plantar soja que milho, dizem analistas. Os preços da soja têm se mantido cerca de 2,4 vezes acima dos de milho, a maior média da relação de preços entre a soja e o milho para esta época do ano desde 2008, de acordo com Edward Usset, especialista em marketing de grãos da Universidade de Minnesota.
"Um grande número de produtores que sequer têm [equipamentos próprios para a] soja está plantando soja de novo por causa da [questão] econômica", diz Rob Shaffer, de 44 anos, que planeja aumentar a área em que cultiva o grão em cerca de 10% este ano, numa propriedade perto de El Paso, no Estado de Illinois.
Alguns analistas acreditam, no entanto, que os agricultores americanos que planejaram plantar mais soja este semestre podem acabar optando por manter o plantio de milho. Os contratos futuros do milho subiram 4,4% este ano, devido à forte demanda para exportações, o que poderia atrair os produtores, diz Roy Huckabay, executivo da Linn Group, trading de futuros de commodities e gestão de ativos de Chicago.
Segundo ele, os preços do milho desde o fim de dezembro se recuperaram bem. "Os preços do milho conquistaram alguns hectares de volta", diz Huckabay.
Qualquer aumento no plantio de soja nos EUA deve elevar significativamente a oferta global, diz Anne Frick, analista sênior da corretora Jefferies Bache LLC, em Nova York. Ela também prevê que os preços da soja caiam para US$ 9,50 por bushel no segundo semestre.
Valor Econômico
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