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Artigo: Soja e milho safrinha, uma parceira rentável!

*por Eng. Agr. Dr. Renato Roscoe

A sucessão de culturas mais comum na área de produção que se estende do Paraná ao norte de Mato Grosso e região do Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), sem dúvida, é a dobradinha soja e milho safrinha. O avanço das pesquisas e o empreendedorismo do produtor do Brasil Central viabilizaram a colheita dupla no mesmo ano agrícola. Um privilégio tecnológico made in Brazil!

Mato Grosso do Sul planta atualmente cerca de dois milhões de hectares de soja no verão e aproximadamente um milhão e meio de milho safrinha. Inovações importantes nos últimos cinco anos têm contribuído mais ainda para consolidar essa dupla. A soja de crescimento indeterminado possibilitou semear as lavouras mais cedo, no início de outubro. Com isso o plantio do milho foi antecipado para inicio de fevereiro, reduzindo à exposição ao risco climático da safrinha. A introdução do consórcio milho com capins aumentou significativamente a quantidade de palha na superfície e a matéria orgânica do solo, favorecendo a tolerância aos veranicos comuns na região.

Recentemente realizamos um estudo na Fundação MS visando entender a rentabilidade da sucessão soja/milho safrinha nos últimos dez anos em Mato Grosso do Sul. Para a soja, a produtividade média do Estado seguiu uma trajetória crescente, saindo de 31 sc/ha em 2003/04 para 48 sc/ha em 2012/13, com um pico em 2009/10 de 52 sc/ha. No período de 2004 a 2013, a média de produtividade de milho variou bastante, em função das condições climáticas de cada ano. Houve anos de baixa produtividade, com 41 sc/ha (2005 e 2009), e anos de altas produtividades, com 86 sc/ha (2012 e 2013). Os preços também sofreram grandes oscilações no período. A soja com um mínimo de R$ 22,19/sc, em 2006, e um máximo de R$ 55,34/sc, em 2012. O milho teve um mínimo de R$ 12,78/sc, em 2005, e um máximo de R$ 24,12/sc, em 2012.

Para a composição do custo total da sucessão, o custeio da soja e do milho foi contabilizado separadamente (custo operacional). Considerou-se a depreciação de máquinas, equipamentos e benfeitorias de forma conjunta, assim como a remuneração pela terra, fixada em 10 sc/ha de soja.

Na análise, consideramos a média de produtividade do estado para cada cultura e a média dos preços praticados nos meses de maior comercialização. Com relação ao custeio, as margens operacionais da soja e do milho individualmente foram positivas em oito dos dez anos estudados. Na média para todos os anos, a soja rendeu uma margem operacional de R$ 653,21/ha e o milho, R$ 335,82/ha. Considerando a sucessão de culturas, a margem foi positiva em nove dos dez anos, com média de R$ 989,03/ha.

Quando se contabilizam a depreciação e a remuneração pela terra, a margem líquida da sucessão variou entre o valor negativo de –R$ 808,67/ha, em 2005, e o máximo de R$ 1.757,66/ha, em 2012. A média para os 10 anos ficou positiva em R$ 512,54/ha.

O estudo conclui que, mesmo quando foram consideradas as produtividades médias do estado e os preços médios nos meses de maior comercialização, a sucessão soja/milho safrinha foi bastante rentável no período de 2004 a 2013, possibilitando a capitalização dos produtores rurais. Vale ressaltar que os produtores mais eficientes, que utilizam sistemas com alto aporte de palha, plantio direto, construção de fertilidade no perfil do solo e adequado ajuste de variedades e manejos culturais, certamente vêm obtendo margens ainda maiores! O mesmo pode ser inferido sobre os produtores que utilizam estratégias de comercialização mais adequadas, como compras conjuntas e vendas antecipadas.

A sucessão soja e milho safrinha certamente precisa de ajustes constantes e atenção às novas tecnologias e oscilações de mercado. Mas, a tomar pelos últimos dez anos, a dobradinha anda muito bem, obrigado!

*Renato Roscoe é engenheiro agrônomo (UFV, 2005), mestre em ciência do solo (UFLA, 1997) e doutor em environmental sciences (Wageningen University And Research Centre, 2002). Atua como diretor executivo e pesquisador no setor fertilidade do solo na Fundação MS.

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