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Artigo: Cenários do agronegócio brasileiro

Por Benjamin Salles Duarte*

De janeiro a junho de 2015, o agronegócio brasileiro acumulou um superávit de US$ 36,2 bilhões, nele contidos US$ 3,43 bilhões do agro mineiro,ou 9,47%, uma âncora poderosa no tempestuoso mar da economia brasileira. É a força do campo nas artes de plantar e criar, abastecer e exportar. Os demais setores, no mesmo período, apresentaram um déficit de US$ 33,9 bilhões nas exportações.

A adoção de centenas inovações tecnológicas pelos empreendedores rurais, familiares, médios e grandes empresários, bem como estímulos de mercados, explica esse desempenho que se configura histórico na economia brasileira e cujas vocações agropecuárias e florestais são também verdadeiros passaportes verdes para o futuro, que é uma construção coletiva, recorrente, e a exigir programas mais eficientes de sustentabilidade planejada dos recursos naturais.

O agronegócio traciona a agroindústria, o comércio de máquinas, equipamentos agrícolas, peças de reposição, calcários, sementes, mudas, defensivos, embalagens, energia, e até o de veículos automotores, que transportam grãos, cereais, oleaginosas, leite fluido, carnes e deságua também nas ferrovias, hidrovias, e nos navios e vagões graneleiros. Supre igualmente, com a diversidade da oferta de produtos alimentícios, todo um sistema agroalimentar de distribuição do campo à mesa do consumidor definitivamente urbanizado e cada vez mais exigente com a qualidade nutricional e preços pagos, agora num cenário econômico visivelmente desidratado e que seja transitório. O Brasil ostenta 85% da população nas cidades e regiões metropolitanas.

Os avanços havidos, e por haver, do agronegócio brasileiro, que passa por Minas Gerais, dependem não apenas das políticas públicas, mas, por acréscimo, da qualidade e oportunidade das informações que chegam aos empreendedores rurais ao longo das fases próprias das culturas e criações, pois há tempo para plantar, tratar, colher, criar e vender. São ciclos definidos pela natureza e com a interveniência da inteligência humana, à base dos ganhos da ciência e da tecnologia, compartilhados, e de olho nos dados de mercados.

Não há como subestimar, com um mínimo de lógica e razoabilidade, os papéis da agricultura nos eixos econômico, social e ambiental, convergentes. Lembre-se minimamente que as grandes áreas coletoras de chuvas estão nas paisagens rurais nos contextos das bacias hidrográficas e dentro também da porteira da fazenda. Segundo o Censo Agropecuário de 2OO6, ainda vigente, os 551.617 estabelecimentos rurais mineiros ocupam uma área bruta de 32,6 milhões de hectares, on de as boas práticas, adotadas, são vitais igualmente à produção e reservação de água para múltiplos usos no campo e nas cidades.

Pode-se conciliar a produção agrícola com a figura do agricultor também considerado como produtor de água, através da adoção das práticas de conservação da água e do solo. Aliás, sem muito esforço dedutivo, a solução planejada para superar a crise hídrica passa necessariamente pelas paisagens rurais, repita-se, as grandes áreas coletoras de chuvas e sendo elas escassas ou generosas.

Esse é um esforço renovado e conjugado hercúleo e multidisciplinar ao reunir um elenco de atores públicos e privados num cenário geográfico substantivo. A relação do homem com a natureza é umbilical há milhares de anos, pois é uma questão de produzir, viver e sobreviver.

Segundo os cientistas e estudiosos, tem-se pela frente mais um desafio globalizado; as mudanças climáticas, tese ainda polêmica e cujos sinais, entretanto, são visíveis no planeta Terra e que se prenunciam interferir na qualidade de vida e no desempenho das economias dos países ricos, pobres e remediados. Haja dinheiro para recuperar o que já foi dizimado e juízo suficiente, determinação, decisão política e recursos para minimizar os impactos ambientais advindos da pressão exercida pelos atuais 7,1 bilhões de habitantes/consumidores e com previsão de até 9,2 bilhões em 2050. Tempo curto na história da humanidade.

O efeito da adoção de tecnologias nas culturas e criações, segundo as vocações e singularidades regionais, associando-se aos mercados por vias internas e nos caminhos das exportações do agronegócio brasileiro, vitorioso, foi configurado nas pesquisas da Embrapa, baseadas no Censo Agropecuário de 2OO6, em que os ganhos consecutivos da produção brasileira de grãos foram resultantes em 68% da adoção de tecnologias, 22% devidos ao trabalho qualificado e 1O% relativos ao fator terra.

Num mundo em que a mudança é a única coisa permanente, na agroeconomia não seria diferente ao exigir mais pesquisas, crédito, gestão das inovações tecnológicas, sustentabilidade dos recursos naturais, políticas públicas, seguro agrícola, logísticas operacionais eficientes, assistência técnica, extensão rural e avanços consideráveis na qualidade de vida de quem planta e cria nos cenários rurais. Não há milagre na agropecuária. Aliás, o engenheiro agrônomo Eliseu Alves (PhD), ex-presidente da Embrapa, disse: ”a sustentabilidade é do produtor e nunca dos recursos naturais. Sem produtor sustentado não há recursos naturais sustentáveis”.

*Benjamin Salles Duarte é Engenheiro Agrônomo. Extensionista da Emater-MG. Artigo publicado no DCI

Fonte: CNA